Mitos e falácias comuns sobre o câncer - Blog - Hospital Vera Cruz

22/03/2023

Mitos e falácias comuns sobre o câncer

Fumar ‘só um pouquinho’ aumenta os riscos de câncer? A doença ‘vem de família’? Quais são os principais fatores de risco? Pesquisa francesa explora os mitos e as preconcepções da população sobre a doença.

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O Instituto Nacional do Câncer da França (L’Institut National du Cancer), juntamente com o Serviço Público de Saúde (Santé Publique France) do país, realizam a cada 05 anos um amplo questionário junto à população francesa sobre o câncer. O intuito é criar um panorama da compreensão pública e entender a prevalência de mitos e verdades quando o assunto é câncer.

Os resultados são bastante interessantes e podem ajudar especialistas em saúde de todo o mundo a delinear estratégias mais eficientes de comunicação pública sobre o tema.

Confira, a seguir, o que pensa a população francesa (em um recorte de 5.000 pessoas, de ambos os sexos, com idades entre 15 e 85 anos) sobre câncer, e o quanto ainda persistem no imaginário popular diversos ‘mitos’ antigos relacionados à doença. Como será que a população brasileira se sairia neste questionário? Imagine a partir do nosso resumo a seguir.

Como será que a população brasileira se sairia neste questionário de mitos sobre o câncer?

 

Câncer vem de família?

A enorme maioria dos pesquisados afirmou que o câncer é uma doença hereditária – essa foi uma afirmação aceita por quase 70% das pessoas.

Os autores da pesquisa apontam que isso precisa ser esclarecido. Na verdade, não é a doença em si que é hereditária. O que pode acontecer é uma pessoa receber de seus pais genes que predispõe ao aparecimento de alguns tipos de câncer, mas isso não é uma ‘sentença’ de que a doença necessariamente aparecerá.

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Essa distinção é importante, segundo os autores, porque…

“[acreditar que o câncer é hereditário] pode levar as pessoas a imaginar que medidas preventivas são desnecessárias, já que ele surgirá ‘de qualquer maneira’ “.

Reforçando, portanto: câncer não é hereditário. Algumas pessoas podem, sim, ter genes que as predispõe a alguns tipos de câncer. Saber disso é fundamental a fim de traçar, junto aos profissionais de saúde, medidas para evitar o desenvolvimento da doença. Mas ter esses genes, frisa-se, não é uma certeza de que a doença aparecerá ao longo da vida.

 

O fumo e o câncer

Todo mundo sabe que ‘fumar’ e ‘câncer’ são dois termos intimamente correlacionados (aliás, você já leu nosso material especial “Uma breve história da luta contra o fumo: da regra à exceção”?). Mas quando perguntados sobre o que mais impacta essa relação, as respostas dos franceses indicaram que alguns mitos sobre fumo ainda persistem.

Para 41% dos entrevistados, o fator de maior impacto sobre os riscos de desenvolver câncer é por quanto tempo uma pessoa fumou durante a vida. Ou seja, quanto mais anos fumando, maiores as chances de um câncer surgir. Já 58% dos entrevistados acreditam que, na verdade, é o número de cigarros fumados por dia o que mais impacta a saúde (disseram que, em média, fumar nove cigarros por dia já ampliava os riscos de câncer). E você, qual a sua opinião sobre o tema?

Veja também:

Uma breve história da luta contra o fumo: da regra à exceção

Segundo os especialistas, a literatura científica indica que a exposição prolongada às substâncias carcinogênicas presentes nos cigarros é, de fato, o maior fator de risco para o câncer. Acertaram os 41%.

É importante manter isso em mente pelo seguinte motivo: usualmente, quem acha que é o ‘número de cigarros fumados por dia’ o que irá ditar o aparecimento de um câncer acredita, também, que fumar poucos cigarros não traz tantos malefícios assim à saúde. A lógica, apesar de se basear em prerrogativas erradas, faz sentido, e por isso mesmo vale o alerta. 35% dos pesquisados concordou com a seguinte frase: “Fumar não causa câncer a não ser que você seja um fumante inveterado e consumiu cigarros por muito tempo”. O que não é verdade: hoje, sabe-se que fumar com frequência – mesmo que por curtos períodos – e até mesmo o consumo ocasional de tabaco já aumentam a mortalidade.

Mais dados curiosos? 43% dos entrevistados concordaram com a afirmação (falsa) de que “a poluição provoca mais câncer do que fumar”, e 55% acreditam que “praticar exercícios limpa o tabaco dos pulmões”, o que também (infelizmente) é falso.

Sobrepeso, obesidade e o câncer

Hoje em dia, dados da literatura científica mostram que os maiores fatores de risco para o desenvolvimento do câncer são:

  • fumar,
  • consumir álcool e
  • manter excesso de peso.

Todavia, muita gente ainda não dá o devido valor a este último fator de risco. A pesquisa francesa mostra que apenas 30% dos entrevistados conheciam a correlação entre sobrepeso, obesidade e câncer.

De fato, quando perguntados sobre quais são os fatores de risco para a doença, apenas 100 das 12.558 respostas obtidas foi relacionada ao peso. Isso é algo que precisa mudar, já que as taxas de obesidade continuam subindo em todo o mundo – até mesmo na França, um país que possui a fama de ter uma população bastante esguia.

 

Amamentação e câncer

Como os leitores do Blog do Hospital Vera Cruz já sabem, o aleitamento materno traz uma série de benefício à saúde da mãe (assim como da criança), tanto no curto quanto no longo prazo. Um deles é a proteção contra o aparecimento do câncer de mama.

Na pesquisa francesa, 63% dos entrevistados afirmaram o contrário: que a amamentação não alterava os riscos da mãe desenvolver câncer de mama. Este é, portanto, mais um ponto que precisa ser debatido com insistência nas conversas públicas sobre saúde.

Veja também:

Aleitamento Materno: quais são os benefícios para os bebês (e para as mamães)?

 

Mitos do câncer de pele

O uso de câmaras de bronzeamento artificial é fortemente desaconselhado por todos os especialistas em dermatologia, já que aumenta consideravelmente os riscos de câncer de pele. Na pesquisa francesa, porém, esse risco parece não ser de total conhecimento da população: 20% dos entrevistados disseram que uma sessão de bronzeamento artificial é menos perigosa do que a exposição solar normal, o que não é verdade.

 

Surpreendeu-se com as opiniões dos franceses sobre o câncer? Com quantas das afirmações acima você se identificou? Para ficar por dentro das mais recentes descobertas sobre a doença, acompanhe nossas postagens sobre oncologia aqui no Blog. E para mais informações sobre a pesquisa, você poderá baixar gratuitamente o estudo ‘Baromètre cancer 2021 – Synthèse’ (em francês) neste link.

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25 de março

Março Azul-Marinho

“Março Azul-Marinho” é o nome da campanha que tem o objetivo de promover a prevenção e o combate ao câncer do intestino grosso ou, como é mais conhecido, c0âncer de cólon e reto (o reto é a porção final do intestino grosso). A importância dessa campanha se justifica por diferentes fatores. Em primeiro lugar, pelos números associados à doença. Dados da Associação Internacional para Pesquisa em Câncer (www.iarc.who.int) mostram que o tumor colorretal é o quarto câncer mais comum no mundo, com mais de um milhão de casos novos diagnosticados anualmente. Ainda pelos dados da IARC, no cenário mundial, este tipo de câncer aparece como a terceira maior causa de morte por tumores (aproximadamente meio milhão de óbitos por ano), atrás dos cânceres de pulmão e mama. No Brasil, as estatísticas do Instituto Nacional do Câncer (www.inca.gov.br) mostram que, em 2019, o câncer colorretal provocou a morte de 20.576 pessoas (10.191 homens e 10.385 mulheres). A estimativa do INCA para 2020 foi de cerca de 41 mil casos novos de câncer do intestino grosso. Informar-se corretamente, um dos objetivos da campanha Março Azul-Marinho, nos dá meios para diminuirmos o risco de desenvolvermos o câncer colorretal ou diagnosticá-lo o mais cedo possível. É importante saber, por exemplo, que a probabilidade aumenta com a idade. Este tipo de tumor é infrequente entre os jovens e muito mais comum a partir dos 50 anos. Por isso, recomenda-se que, quem chegou a esta idade, mesmo que não apresente queixas relacionadas ao hábito intestinal (indivíduo assintomático), converse com um médico ou busque informações nos serviços de saúde, para conhecer as alternativas e disponibilidade dos chamados exames de rastreamento, como pesquisa de sangue oculto nas fezes, retossigmoidoscopia e colonoscopia. Para quem tem parentes próximos com diagnóstico confirmado de câncer colorretal, para aqueles que têm doenças inflamatórias do intestino, como retocolite ulcerativa ou doença de Crohn, e indivíduos com certas doenças hereditárias, como a polipose familiar, a orientação sobre exames de rastreamento deve ser individualizada e realizada antes dos 50 anos. Em alguns casos, é recomendada a avaliação por especialista em Oncogenética. Também é importante salientar que determinados hábitos e escolhas podem aumentar nosso risco de desenvolver câncer colorretal. Estudos e pesquisas internacionais demonstraram que o tabagismo, o consumo de bebidas alcoólicas, a alimentação com poucas fibras (frutas e vegetais) e excesso de carnes vermelhas e processadas (salsicha, mortadela, linguiça etc.), estão associados ao desenvolvimento da doença. Além disso, deve-se evitar o sedentarismo e o excesso de gordura corporal. Conhecer os sinais e sintomas mais frequentemente associados ao câncer colorretal também é relevante. Deve-se buscar avaliação médica, sem demora, no caso de se observar a presença persistente de sangue nas fezes; se as fezes passarem a ter formato fino ou achatado (em forma de fita); se acontecer mudança inexplicável no hábito intestinal, especialmente se forem períodos de diarreia intercalados com períodos em que o intestino para de funcionar; se surgir dor ou desconforto abdominal recorrentes; se detectada tumoração abdominal, anemia, fraqueza e/ou perda contínua de peso sem motivo. Quando um ou mais desses sinais e sintomas estão presentes e a pessoa passa por avaliação médica adequada, aumentam as chances de que, se for mesmo um tumor do intestino, seja descoberto e tratado em estágio inicial. Nessas circunstâncias, as chances de cura superam 90%. Por outro lado, apesar de muitos avanços terapêuticos e das constantes pesquisas, o câncer colorretal diagnosticado em estágios avançados ainda exige tratamentos complexos e de alto custo, resultando em prognóstico limitado, com alto risco de toxicidades graves e sequelas indesejáveis. Isso é o que o engajamento na campanha “Março Azul-Marinho” procura evitar. *Dr. Paulo Eduardo Pizão (CRM 58.041) é coordenador do Vera Cruz Oncologia.

03 de fevereiro

TUMOR BOARD: um passo para o tratamento oncológico personalizado

Uma prática essencial na medicina moderna é o compartilhamento de informações entre os profissionais especialistas. O “Tumor Board” surgiu nesse contexto, tendo em vista a capacidade multidisciplinar de uma instituição com grande quantidade de profissionais voltados para o tratamento oncológico e o surgimento de encontros ou reuniões esporádicas com o objetivo de gerar debates sobre diversos casos. Independentemente da experiência de cada médico, ter uma diversidade de especialistas em um ambiente profissional capazes de opinar sobre o assunto pode gerar enormes benefícios para uma instituição de saúde e, em especial, para o paciente. Ao trabalhar em conjunto, a equipe pode avaliar todas as opções para aperfeiçoar a precisão no diagnóstico e a eficácia do tratamento oncológico. Isso pode representar mais rapidez na condução do tratamento, impacto no custo-efetividade e assertividade na tomada de decisão. Atualmente, é possível implementar essa linha de raciocínio coletivo utilizando as plataformas virtuais, que permitem inclusive a participação remota de profissionais de instituições internacionais e grandes centros oncológicos mundiais. Afinal, quem participa desses encontros? Diversas especialidades médicas podem compor esses participantes como Oncologia Clinica, Cirurgia Oncológica, Patologia, Radiologia Clinica, Radiologia Intervencionista, Medicina Nuclear, Radioterapia, Especialidades Cirúrgicas, Oncocardiologia e outros profissionais de saúde envolvidos no cuidado do paciente oncológico (enfermeiros, farmacêuticos, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais). “Tumor Board” é uma estratégia inovadora que pode garantir a implantação de práticas de medicina de precisão nos serviços de saúde. A medicina de precisão é uma prática diferente dos moldes tradicionais de atendimento, que visa um tratamento individualizado que considera fatores genéticos, biológicos e influência dos meios externos, tornando a decisão terapêutica mais humanizada e completa. Ao tratar cada paciente como um ser individualizado, e não apenas parte de um sistema, a equipe deixa de considerar o diagnóstico como peça central do direcionamento do tratamento e o entende como mais um pedaço do quebra-cabeça que precisa ser montado para alcançar o bem-estar do paciente. Dra. Camila Nassif Ferreira Brito Médica oncologista do grupo de Oncologia do Vera Cruz Hospital

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