Após realizar um ultrassom, a atriz descobriu que tem “ovário policístico”. Você sabe o que isso significa e quais são os principais sintomas?
Recentemente, a cantora Anitta comentou, em redes sociais, que está com endometriose, uma doença que já explicamos aqui no Blog do Hospital Vera Cruz. Este mês, seguindo a tendência de famosas compartilharem com o público informações de conscientização sobre a saúde, a atriz Larissa Manoela revelou que tem não apenas endometriose, como também ovário policístico. Você sabe o que isso significa?
Preparamos um resumo sobre o assunto, com as principais informações que você precisa conhecer e os sintomas para os quais precisa estar alerta.
Ontem através de um ultrassom detalhado eu descobri que além de endometriose eu tenho também ovário policístico. Não é fácil ser mulher. O diagnóstico positivo assusta e confesso dar uma desestabilizada. Mas tô certa de que vou encontrar o melhor tratamento pra ambas as doenças!
— Larissa Manoela ✨ (@larimanoela) September 20, 2022
Síndrome do Ovário Policístico e cistos nos ovários são coisas diferentes!
Antes de prosseguirmos, um pequeno alerta: ainda há muita confusão quando se fala em ‘ovário policístico’. O termo pode aparecer relacionado a duas condições similares, porém diferentes.
Cistos nos ovários: essa é uma condição extremamente comum. Cistos, nesses casos, nada mais são do que pequenas bolsas contendo fluidos e que estão presentes no ovário, seja na parte interna ou nas paredes externas. Usualmente, não causam nenhum problema (inclusive, não dificultam a gravidez), e podem até sumir espontaneamente após algum tempo. Os sintomas mais comuns (mas nem sempre presentes) são desconforto e dores na região pélvica. Apesar de serem normalmente benignos, precisam ser acompanhados de perto, já que podem eventualmente indicar problemas mais sérios de saúde.
Síndrome do Ovário Policístico: esta é uma questão mais complexa. Aqui, uma grande quantidade de cistos contendo folículos (que são estruturas que protegem os óvulos) estão presentes na parte externa dos ovários, e esses cistos estão relacionados a mudanças hormonais importantes, que explicaremos abaixo. Atenção: o que caracteriza a síndrome é a presença de cistos com folículos, e não necessariamente a presença de cistos nos ovários. Como o nome da síndrome fala em ‘policistos’, muitas pessoas acham que ter vários (“poli”) cistos nos ovários e ter ovário policístico é a mesma coisa. É esse ponto que costuma gerar confusão. De qualquer maneira, muito possivelmente é a síndrome, e não meramente ‘cistos’, o que afeta a atriz Larissa Manoela.
O que é a Síndrome do Ovário Policístico?
O termo médico para “ovário policístico”, portanto, é “Síndrome do Ovário Policístico”. Por “síndrome” entende-se que há um grupo de sintomas que aparecem juntos com frequência. Ela foi descrita pela primeira vez em 1935, em um texto médico que apresentava mulheres com sintomas como hirsutismo (presença de excesso de pelos no corpo), ausência de menstruação após um ciclo normal e cistos nos ovários.
Hoje em dia, a síndrome do ovário policístico é caracterizada por:
- alterações na ovulação,
- excesso de hormônios masculinos na mulher e
- presença de cistos nos ovários.
A maneira como esses sinais se revelam no corpo e na saúde varia muito de pessoa para pessoa – encontre informações detalhadas na seção a seguir.
Ainda não se sabe o que causa a síndrome. Há indícios de que as causas possam ser genéticas, ou que estão relacionadas à resistência à insulina ou a uma inflamação persistente.
As estimativas de incidência variam bastante de acordo com os critérios utilizados para diagnóstico, mas alguns estudos apontam que cerca de 15 a 20% das mulheres podem ter ovário policístico. A idade de diagnóstico normalmente é entre 30 e 40 anos.
Quais são os sintomas?
Uma das maiores dificuldades relacionadas à síndrome é o seu diagnóstico. Isso porque os sintomas variam bastante de mulher para mulher e podem ocorrer de maneira irregular ou pouco frequente. É muito comum que os sintomas nem mesmo sejam percebidos como algo de grave na saúde, sendo ignorados por muitos anos. Assim como acontece com outras doenças, quanto mais cedo for realizado o diagnóstico, melhores as chances de tratamentos eficientes.
No geral, indica-se que se procure um médico caso tenha algum dos sintomas abaixo, que podem indicar a síndrome do ovário policístico:
- Alterações no ciclo menstrual, tornando-os mais difíceis de prever. Às vezes o ciclo pode estar encurtado, em outros casos ele se estende por períodos longos. Pode ocorrer de um ciclo nem mesmo acontecer, logo após um ciclo aparentemente normal.
- Alterações de pele ou de cabelo: incluem ganho de peso, queda de cabelo e aparecimento de pelos no corpo, incluindo face.
- Dores na região pélvica
- Mudanças de humor
Estes são os sintomas que você pode perceber ‘por conta própria’. Agora, em exames clínicos, seu médico poderá identificar outros sinais bastante reveladores da síndrome:
- Hormônios masculinos em excesso no sangue
- Presença dos cistos nos ovários
- Problemas na produção ou na ação da insulina (nem sempre estão presentes, mas são bastante comuns)
Outros sinais e sintomas, estes mais incomuns, são:
- Presença de áreas mais escuras na pele na região do pescoço ou das axilas
- Ganho de peso na região do quadril
Como é feito o diagnóstico?
No momento, não existe um teste ou exame específico para diagnosticar a síndrome do ovário policístico. O diagnóstico é feito por meio de exames como o de ultrassom, que verificará o tamanho dos ovários e a presença de cistos, e análises de sangue, que verificarão alterações nos níveis hormonais, no colesterol e na glicemia, dentre outros fatores. A partir dessas informações, o médico será capaz de diagnosticar a doença.
Além disso, conversar com sua (seu) ginecologista e explicar todos os sintomas que você tem percebido é fundamental para que ela (ele) possa entender melhor a questão e realizar um diagnóstico mais preciso.
A síndrome dificulta ou impede uma gravidez saudável?
Como vimos acima, a presença de cistos nos ovários pode interferir na ovulação, isto é, no processo em que um óvulo é liberado dos ovários e poderá ser fecundado. Além disso, vimos também que a síndrome causa alterações na produção de hormônios, o que tem grande influência na fertilidade feminina. Tudo isso faz com que engravidar possa ser, sim, mais complicado para mulheres com a síndrome. Em muitos casos, a síndrome só é descoberta quando a dificuldade em engravidar se torna aparente. Mas há maneiras de se reverter o quadro, como veremos a seguir.
Quais são as opções de tratamento para ovário policístico?
A síndrome é considerada uma doença crônica, isto é, ainda sem uma cura definitiva e específica para ela. Porém, isso não significa que não possa ser tratada!
Hoje em dia, com um bom acompanhamento médico, é possível controlar (e até mesmo reverter) os sintomas. Sua (seu) ginecologista, após avaliar cuidadosamente sua saúde e características hormonais, poderá iniciar um tratamento que reequilibrará os níveis desses hormônios, o que ajudará a aliviar os sintomas. Isso tem um efeito prático também em mulheres que buscam engravidar, facilitando o processo e garantindo uma gestação mais saudável.
Além disso, estudos sugerem que a adoção de bons hábitos de saúde, como perda de peso e prática de atividades físicas regulares, pode ajudar a melhorar os sintomas de quem tem a síndrome – muito possivelmente por estas ações terem amplo efeito na produção e no uso da insulina pelo corpo, um dos hormônios potencialmente relacionados à doença.
EM RESUMO:
A “síndrome do ovário policístico” tem este nome pela presença, na parte externa dos ovários, de um número anormalmente alto de cistos (contendo folículos). Além dessa característica, a presença de excesso de hormônios masculinos no sangue e mudanças na ovulação também caracterizam a síndrome. Os sintomas mais comuns estão relacionados a alterações no ciclo menstrual e ao desequilíbrio hormonal. Apesar de não haver um medicamento específico para combater a doença, os sintomas podem ser tratados separadamente, com grande sucesso. Além do uso de medicamentos que ajudam a reequilibrar os níveis hormonais, a perda de peso costuma ser indicada para alívio dos sintomas.
Artistas e celebridades estão cada vez mais compartilhando com o público questões sobre saúde. Isso pode alertar as pessoas sobre problemas que, muitas vezes, elas ainda nem sabem que têm. A síndrome do ovário policístico é um desses casos.
Nossa dica é estar sempre atenta aos sinais que seu corpo revela e conversar sobre todos eles com seu médico. Com um bom acompanhamento, os sintomas podem ser contornados ou evitados, garantindo mais qualidade de vida e evitando-se complicações no futuro.
Lembramos que mulheres com a síndrome do ovário policístico têm chances maiores de desenvolver alguns problemas de saúde, especialmente na menopausa. Dentre eles estão o diabetes e problemas cardiovasculares, como pressão alta. Sendo assim, todo cuidado e atenção são essenciais. Não deixe sua saúde em segundo plano! Conte sempre com o suporte de nossos profissionais para tirar dúvidas, conversar sobre quaisquer questões que te incomodem e para encontrar os melhores, mais eficientes e modernos tratamentos.
PARA SABER MAIS:
- Susan M Sirmans and Kristen A Pate. Epidemiology, diagnosis, and management of polycystic ovary syndrome. Clin Epidemiol. 2014; 6: 1–13. Published online 2013 Dec 18. doi: 10.2147/CLEP.S37559
- Artigo no NHS: https://www.nhs.uk/conditions/polycystic-ovary-syndrome-pcos/
- Artigo Ministério da Saúde: https://bvsms.saude.gov.br/sindrome-dos-ovarios-policisticos/