Neste Dia Nacional de Combate ao Fumo, país celebra queda no número de fumantes e é mencionado pela OMS como exemplo global na luta contra o cigarro.
Em um planeta com cerca de 8 bilhões de pessoas, cerca de 1.36 bilhão fuma. O número pode parecer alto, mas a boa notícia é que a porcentagem dos fumantes vem caindo de forma acelerada nos últimos anos. Quinze anos atrás, 23% da população mundial era de fumantes; hoje, o índice está nos 17%.
Quais as razões para essa redução?
Uma das mais citadas: a internet e as redes sociais têm ajudado a divulgar, a um público cada vez maior, as consequências nefastas à saúde do consumo de cigarros. Quanto mais se sabe sobre o assunto, menos se fuma. Mas, talvez tão importante quanto a conscientização das pessoas seja a ação de governos em todo o mundo. Políticas públicas podem ser um fator decisivo para explicar por que, hoje, menos pessoas se interessam por cigarros do que antes.
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Recentemente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou a mais nova versão do relatório [1] sobre a “epidemia do tabaco” global, mostrando como a adoção de medidas simples e leis eficientes pode ajudar a proteger milhões de vidas todos os anos.
Segundo a OMS, o tabaco é responsável, indiretamente, por 01 milhão de mortes por ano. Elas são relacionadas à inalação passiva de fumaça, que aumenta os riscos de AVC, de problemas respiratórios, doenças cardíacas, câncer e até mesmo de diabetes tipo 2.
Conheça as medidas MPOWER
Buscando reduzir o impacto do tabaco na saúde global, em 2007 a OMS criou as chamadas ‘medidas MPOWER‘, uma séria de orientações que países de todos os tamanhos e níveis de renda podem adotar para diminuir o número de fumantes.
As medidas são baseadas em evidências de efetividade de políticas públicas coletadas ao longo das últimas décadas em todo o mundo e têm ótimo custo-benefício. Confira abaixo algumas delas:
- Aumentar os impostos relacionados ao tabaco (por exemplo, tornando mais cara a venda de cigarros ou a importação de matérias-primas);
- Aplicar proibições à publicidade relacionada ao tabaco. Isso inclui restrições a propagandas, promoções e patrocínios que a indústria do cigarro poderá fazer;
- Criar campanhas de alerta à população sobre os riscos de consumo do tabaco;
- Oferecer, especialmente na rede pública de saúde, apoio para pessoas que queiram parar de fumar;
- Monitorar o uso do tabaco na população (por meio de pesquisas como a Vigitel [Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico], realizada periodicamente aqui no país).
A OMS estima que, em 2022, 151 países adotavam ao menos uma das orientações MPOWER – isso representa mais de 70% da população mundial. Em 2008, como comparação, apenas 5% da população estava de alguma forma protegida por leis anti-tabaco.
Notas altas para o Brasil
Cada vez menos fumantes no país
No relatório da OMS, o Brasil aparece como um dos destaques positivos. Somos mencionados no grupo de países que melhor adotam práticas anti-tabaco no planeta.
Os ‘elogios’ da OMS vêm, primeiramente, pelo número decrescente de fumantes. Os dados são das pesquisas Vigitel, realizadas pelo Ministério da Saúde. Em 2006, 15.7% dos brasileiros com 18 anos ou mais fumavam. Eram 19.5% dos homens e 12.4% das mulheres. Em 2021, porém, menos de 10% dos brasileiros eram fumantes. Nesse ano, a pesquisa indicou que 11.8% dos homens e 6.7% das mulheres fumavam, o que representa cerca de 9% da população.
A redução é animadora. Em 15 anos, a porcentagem de adultos fumantes no Brasil caiu de 15.7% para 9.1%.
Em segundo lugar, o Brasil compartilha, junto aos demais países da América do Sul, a distinção de fazer parte da primeira região no planeta ‘livre de fumaça’, segundo a OMS. Isso significa que todos os países da região possuem leis que proíbem o fumo em espaços fechados, em locais de trabalho e no transporte público.
O documento ainda menciona o Brasil em relação a um estudo [2] que demonstrou que a adoção de políticas de combate ao fumo protegeu ao menos 15 mil vidas de crianças e de recém-nascidos no período de 2000 a 2016. Ainda, comenta que proibimos, desde 2009, a importação e a propaganda de cigarros eletrônicos, o que é um exemplo para outros países.
A sigla MPOWER – que soa como ‘empower’, ou ‘empoderamento’, em inglês – é formada pelos termos ‘monitor’, ‘protect’, ‘offer’, ‘warn’, ‘enforce’ e ‘raise’, relacionados às principais diretrizes do programa da OMS:
- Monitorar o uso do tabaco e as políticas de prevenção
- Proteger as pessoas da fumaça do tabaco
- Aumentar impostos sobre o tabaco
- Aplicar proibições à publicidade, promoção e patrocínio do tabaco
- Alertar sobre os perigos do tabaco
- Oferecer ajuda para parar de fumar
Comentando o relatório, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, afirmou que o mundo está caminhando para um futuro cada vez mais livre de fumaça e de cigarros, o que representa enormes ganhos à saúde da população – apesar da oposição ferrenha da indústria do tabaco.
“Todos têm o direito de respirar ar puro. Precisamos continuar a trabalhar juntos para combater os esforços das empresas de tabaco e nicotina para prejudicar a saúde pública”, afirmou o diretor.
Quer saber mais?
- World Health Organization. WHO report on the global tobacco epidemic, 2023: protect people from tobacco smoke. https://www.who.int/publications/i/item/9789240077164
- Hone T, Szklo AS, Filippidis FT, Laverty AA, Sattamini I, Been JV et al. Smokefree legislation and neonatal and infant mortality in Brazil: longitudinal quasi-experimental study. Tob Control. 2020;29:312–9. doi: 10.1136/tobaccocontrol-2019-054923. Acesso: https://tobaccocontrol.bmj.com/content/29/3/312