Glaucoma e catarata respondem pela maioria dos casos de cegueira – e ambas podem ser prevenidas. Saiba como se proteger e como cuidar bem dos olhos.
10 de julho é o Dia da Saúde Ocular. Essa não é a única data no ano dedicada aos olhos: há a campanha ‘Abril Marrom’, focada no glaucoma, também o Dia Mundial da Visão (celebrado na segunda quinta-feira de outubro), a semana da Optometria (em março), a Semana do Glaucoma… ao longo do ano, diversas campanhas alertam sobre a importância de cuidar bem dos olhos. Motivos para isso é que não faltam.
Estima-se que, no mundo, mais de 1 bilhão de pessoas vivem com algum tipo de perda de visão. O número é alto e impressiona, mas mais impactante ainda é saber que cerca de 90% desses casos poderiam ser prevenidos, ou então tratados com maior eficiência.
Além desse 1 bilhão de pessoas, mais 02 a 03 bilhões precisam de acompanhamento médico a fim de otimizar sua visão, para que possam enxergar com maior qualidade. Entram nesses casos todos que precisam de óculos, por exemplo.
A própria natureza já nos dá uma dica sobre a importância de enxergar bem: mais de 50% do córtex cerebral é dedicado ao processamento da informação visual. Faz sentido: a visão é um dos sentidos mais relevantes para nos orientar no mundo, ajudando a evitar obstáculos e a fugir de perigoso, além de facilitar a obtenção de inúmeros tipos de informações – de dados externos (através da leitura, por exemplo) a detalhes sobre nós mesmos (permitindo que identifiquemos problemas em nosso corpo). Mantê-la saudável é importantíssimo para a longevidade e o bem-estar de todo o organismo.
Ter uma boa visão faz bem para a saúde no longo prazo, também. Pesquisas têm demonstrado correlação entre má visão e declínio cognitivo em idosos, incluindo déficits de linguagem, memória, atenção e habilidade de identificar objetos.
Existem inúmeros problemas que podem afetar a visão e, como vimos acima, para boa parte deles já há maneiras de se prevenir e de se tratar. Veremos, a seguir, alguns dos principais pontos de atenção para garantir uma boa visão no curto e longo prazo.
No Brasil, ainda há muita gente que não cuida bem dos olhos
Uma pesquisa do Ibope Inteligência realizada em 2020 revelou que cuidar bem dos olhos não é uma prioridade para uma parcela grande da população brasileira. O levantamento perguntou a mais de 2.7 mil internautas, de faixas etárias diversas, como eles lidavam com a saúde ocular. 10% deles afirmaram que foram ao oftalmologista apenas 01 vez na vida. Entre pessoas de 18 a 24 anos, essa porcentagem foi de mais de 20%.
Para boa parte da população, a visita a um oftalmologista está condicionada a algum problema constante nos olhos. Por exemplo, 13% dos entrevistados afirmaram que faria sentido ir ao médico se sentissem dores frequentes nos olhos. 23% fariam a consulta após perceber alguma perda de visão. No geral, se não há problemas aparentes, muitos acreditam que visitar o médico é dispensável (já veremos por que essa ideia não é verdadeira).
A pesquisa mostrou que alguns dos principais sintomas de doenças oculares parecem ser ignorados por boa parte do público. Mais da metade dos entrevistados não sabia que o glaucoma poderia causar a cegueira (e 40% nem sabia o que era o glaucoma). 60% das pessoas da classe C entrevistadas disseram que nunca mediram a pressão ocular e que não sabem por que isso é importante.
No ano passado, uma pesquisa similar, do Datafolha, encontrou números parecidos. O estudo contou com a participação de mais de 2.000 brasileiros, de 130 municípios. No total, 24% dos entrevistados disseram que não vão ao oftalmologista.
O correto seria visitar o oftalmologista ao menos uma vez por ano. Mesmo crianças e adolescentes – uma faixa etária especialmente avessa às idas aos médicos – que enxergam bem têm muito a ganhar com uma consulta, que pode identificar desde pequenos desvios de refração até questões mais sérias e não aparentes, indicativas de doenças. A partir dos 40 anos, visitas anuais são essenciais.
Além disso, no dia a dia, existem alguns sintomas importantes de serem notados.
Principais sintomas oculares para ficar atento:
- Olhos lacrimejando
- Vermelhidão nos olhos
- Presença de secreção nos olhos ou crostas nos cílios
- Visão embaçada
- Sensibilidade à luz
- Dores de cabeça
- Alterações nas pupilas
Caso perceba quaisquer dos sintomas acima, procure ajude médica.
Glaucoma e catarata: os principais ‘vilões’ da perda de visão
Dentre as doenças mais comuns associadas à perda de visão, glaucoma e catarata aparecem no topo da lista. Mas o que são essas doenças, e como é possível identificá-las?
Glaucoma: o que é?
Quando se pensa em glaucoma, deve-se pensar em pressão. É por isso que, na pesquisa do Ibope mencionada acima, umas das perguntas se referia à medição de pressão nos olhos. A importância disso é imensa. Existem ao menos 80 milhões de pessoas no mundo que sofrem as consequências do glaucoma.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o glaucoma é a segunda maior causa de cegueira no mundo, estando atrás apenas da catarata (veja abaixo). De acordo com o Ministério da Saúde, mais de 900 mil pessoas no país são atingidas pela doença.
Pressão intraocular alta (causada pelo acúmulo de fluidos nos olhos), durante anos, pode causar danos ao nervo óptico, resultando em comprometimento na visão. Se não cuidada, pode levar à cegueira.
O glaucoma, no início, é assintomático na maior parte dos casos. Ou seja, não gera problemas de visão ou alterações facilmente perceptíveis nos olhos. Com isso, a procura ao médico ocorre somente quando os danos já se tornaram mais severos. O oftalmologista, ao medir a pressão intraocular e ao realizar o exame de fundo de olho, é capaz de perceber com antecedência essas alterações.
A pesquisa Datafolha mostrou que, dentre aquelas pessoas que não vão ao oftalmologista, 60% disseram que o motivo é que ‘enxergam bem’. Como vimos no caso do glaucoma, muitas doenças perigosas para os olhos têm início silencioso, assintomático. Se forem tratadas apenas quando os sintomas surgirem, pode ser tarde demais para uma intervenção de sucesso.
Fatores de risco para o glaucoma são idade superior a 35 anos, ter pressão alta, ter diabetes e ser negro. Ainda, se há histórico de glaucoma na família, previna-se com consultas frequentes ao oftalmo: existe um fator hereditário importante para a doença.
O glaucoma pode ser tratado de formas simples, por meio de colírios. Dependendo dos casos, o uso desses medicamentos poderá ser aconselhado por toda a vida. Medicamentos orais também existem, para casos mais graves. Em última instância, ainda há a opção de cirurgia, em que o excesso de fluido é drenado, mas ela é indicada apenas para um pequeno número de casos, já que pode causar complicações.
Como o glaucoma pode estar relacionado a outros problemas de saúde – como o diabetes -, muitas vezes o melhor controle dessas doenças ajuda a reduzir, também, a pressão nos olhos.
Catarata
A catarata é a doença que deixa o ‘olho branco’. Ela é uma lesão ocular que faz com que o cristalino – uma ‘lente interna’ dos olhos, essencial para focar os objetos -, que normalmente é transparente, fique opaca, prejudicando a visão.
A catarata é a maior causa de perda de visão no mundo. No Brasil, ela a responsável por 49% dos casos de cegueira tratável. Em 2019, foram realizadas mais de 600 mil cirurgias de catarata pelo SUS (esse número caiu bastante nos últimos anos, especialmente após a pandemia da COVID-19).
O primeiro sintoma da catarata é a dificuldade de enxergar com nitidez (já que a ‘lente interna’ do olho está ficando opaca). Isso costuma ocorrer primeiro em um dos olhos. A pessoa tem a impressão de estar com a visão embaçada, ou que há uma ‘névoa’ constante. Outros sintomas podem ser a distorção de imagens ou a visão dupla. Com o tempo, passa a ser cada vez mais difícil distinguir com nitidez quaisquer detalhes; a visão fica constantemente ‘borrada’. A catarata, lembramos, pode deixar a pessoa cega.
Os principais fatores de risco para a catarata são:
- Idade superior a 50 anos (segundo a OMS, estima-se que a catarata atinja mais de 70% das pessoas acima de 75 anos)
- Traumas nos olhos
- Uso constante de colírios com corticoides
Apesar de séria e de comprometer bastante a visão logo no início dos sintomas, hoje em dia a catarata tem cura, de forma simples, prática e barata. Trata-se de uma cirurgia para a substituição da ‘lente’ danificada (o cristalino) por uma nova. A cirurgia é feita com anestesia local, é rápida (dura de 20 minutos a meia hora), oferece baixos riscos e tem recuperação bastante veloz – em uma semana, a maior parte dos pacientes já passa a enxergar melhor.
Para manter olhos saudáveis, cuidados por toda a vida
Neste Dia da Saúde Ocular, a mensagem mais importante é a de ‘ficar de olho’ na saúde dos olhos! Mantenha-se atento durante toda a vida, para que possa chegar à terceira idade com uma excelente visão. A prevenção inclui consultas regulares ao oftalmologista – mesmo que você enxergue ‘perfeitamente bem’ -, o controle rigoroso de outros problemas de saúde (particularmente diabetes e pressão alta), além de evitar fumar e de ter uma dieta equilibrada.
Durante a consulta ao oftalmo, é importante garantir que não apenas o ‘exame das letrinhas’ seja feito, mas também a medição da pressão intraocular e o exame de fundo de olho.
Mantendo-se vigilante e procurando ajuda médica, parte expressiva dos problemas oculares pode ser prevenida. Talvez não dê para escapar de usar óculos para leitura quando ficar velhinho, mas isso é o de menos se comparado aos riscos que muitos correm ao não prestar a devida atenção aos olhos.
Referências:
- Bourne R, Steinmetz J, Flaxman S, et al., Trends in prevalence of blindness and distance and near vision impairment over 30 years: an analysis for the Global Burden of Disease Study. Lancet Glob Health. 2020. Acessado via o IAPB Vision Atlas (https://www.iapb.org/learn/vision-atlas)
- Brasil: consultas ao oftalmologista: https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-10/pesquisa-mostra-que-10-dos-brasileiros-nunca-foram-ao-oftalmologista
- Pesquisa Datafolha sobre ida ao oftalmologista: https://www1.folha.uol.com.br/seminariosfolha/2022/06/um-quarto-dos-brasileiros-nao-vai-ao-oftalmologista-indica-pesquisa.shtml
- Perda de visão e declínio cognitivo em idosos: Varadaraj V, Munoz B, Deal JA, et al. Association of Vision Impairment With Cognitive Decline Across Multiple Domains in Older Adults. JAMA Netw Open. 2021;4(7):e2117416. doi:10.1001/jamanetworkopen.2021.17416
- Números do glaucoma no Brasil: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2021-1/maio/glaucoma-diagnostico-precoce-e-tratamento-evitam-perda-da-visao