Madonna, infecção bacteriana e sepse - Blog - Hospital Vera Cruz

09/08/2023

Madonna, infecção bacteriana e sepse

No último mês, a cantora preocupou fãs em todo o mundo ao passar dias na UTI tratando uma infecção. O problema pode ter sido sepse. Entenda o que é.

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Quando, no começo de julho, o empresário da superestrela global Madonna anunciou que a cantora estava se recuperando de uma “infecção bacteriana séria” e membros da família revelaram que “temiam que poderiam perdê-la” por causa dessa infecção, muitos se perguntaram o que é que poderia estar acontecendo.

A artista costuma ser reservada em questões de saúde, e nenhuma informação adicional sobre o quadro foi dada – tudo o que se sabe é que ela passou alguns dias na UTI por causa de uma infecção.

As últimas notícias são as de que a cantora está bem, em casa. Shows e turnês foram cancelados enquanto ela se recupera. Mas o mistério continua. Que tipo de infecção bacteriana poderia ter levado a estrela à UTI? Muitos suspeitam que o problema pode ter sido sepse.

 

Sepse: quando uma infecção sai do controle

O fato de que a cantora teve de ser levada à UTI para tratar uma infecção bacteriana indica que o problema havia ‘fugido do controle’, exigindo ação intensiva. Além disso, ela fará 65 anos este mês. Tudo isso reforça a tese de que se tratava de sepse, já que a idade é um dos fatores de risco para esta complicação.

O que seria a sepse? A sepse é uma reação extrema do corpo a uma infecção pré-existente, que pode ser de origem viral, bacteriana, fúngica ou causada por outros agentes infecciosos. Qualquer tipo de infecção pode levar à sepse, mesmo as que se iniciam de forma leve. No geral, a evolução de infecção para sepse é mais comum em casos de pneumonia, infecções abdominais e urinárias. É provável que algo assim tenha acontecido com Madonna.

A sepse é perigosíssima para a saúde, impactando o corpo de forma muito rápida e danosa. Intervenção médica urgente é essencial para garantir a sobrevida do paciente.

No auge da pandemia, uma das complicações mais comuns da COVID-19 severa foi a sepse viral. À época, estudos mostraram que quase 80% dos pacientes que estavam na UTI com COVID tinham sepse [1].

 

Panorama da sepse

Segundo a Organização Mundial de Saúde, a sepse é um dos problemas de saúde mais perigosos que existem. Por ano, mais de 11 milhões de pessoas no mundo morrem por causa dela. No Brasil, os números são de cerca de 240 mil vítimas anuais. Aqui no país, a sepse representa a principal causa de morte nas UTIs não cardiológicas, com uma taxa de mortalidade hospitalar próxima dos 55% [2].

Dados dos EUA mostram que, por ano, 1.7 milhão de adultos no país desenvolve sepse [3]. Desses, pelo menos 350 mil vêm a falecer ou ficam com sequelas graves. É uma taxa de 20%, o que reflete o enorme o perigo que ela representa para a saúde.

 

Infecções são extremamente comuns. Na grande maioria dos casos, o sistema imune é capaz de combater os “invasores” com sucesso, eliminando-os do corpo e reestabelecendo a plena saúde. Por exemplo: quando bactérias nocivas à saúde entram no corpo, elas se multiplicam e podem produzir toxinas ou danificar diretamente células e tecidos. Isso ativa o sistema imune, que envia células de defesa ao local da infecção para combatê-la. Isso resulta nas reações que todo mundo bem conhece: inflamação, vermelhidão, inchaço, dor, febre, dentre outros sintomas.

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O que acontece com o corpo durante a sepse?

Quando o sistema imune não consegue combater satisfatoriamente a multiplicação dos agentes infecciosos, pode acontecer de sua resposta ficar ‘desregulada’. Ainda não se conhecem os motivos exatos que levam a essa desregulação, mas as próprias ações de defesa do corpo podem acabar causando danos, afetando negativamente tecidos e órgãos antes saudáveis. É como se o sistema imune passasse a funcionar no modo ‘turbo’, gerando inflamação sistêmica, sem um foco específico. Nesse cenário, até mesmo os agentes infecciosos podem se multiplicar ainda mais. Toxinas podem entrar na corrente sanguínea, sendo espalhadas para todo o corpo e causando perdas graves de fluidos. Os danos à saúde vêm rapidamente.

A sepse pode afetar múltiplos órgãos ao mesmo tempo, como o coração, fígado, rins, pulmões e até mesmo o cérebro. A inflamação causada por ela é capaz de reduzir o fluxo de oxigênio e de nutrientes por todo o organismo. Pode, ainda, gerar coágulos, dificultando o fluxo sanguíneo a órgão vitais.

Como se isso não fosse perigoso o suficiente, a sepse ainda pode ‘evoluir’ para condições ainda mais perigosas, como o choque séptico. O choque séptico ocorre quando a sepse está tão avançada que causa uma queda extremamente acentuada na pressão sanguínea, o que leva à falha de funcionamento de diversos órgãos vitais.

A sepse, portanto, é perigosíssima. Ela precisa ser tratada com máxima urgência.

 

 

Sepse: sinais e sintomas

Os principais sintomas da sepse são os seguintes:

  • Temperatura desregulada, normalmente caracterizada por febre alta. Pode também ocorrer do corpo ficar com a temperatura anormalmente baixa;
  • Taquicardia;
  • Respiração rápida, ofegante;
  • Baixa pressão sanguínea;
  • Estado mental alterado, confuso;
  • Dores severas no corpo;
  • Baixa produção de urina.

 

Como se trata a sepse?

O tratamento da sepse acontece, necessariamente, nos hospitais. Envolve diversas frentes diferentes de ação, a começar com o uso de antibióticos de amplo espectro, no caso das infecções bacterianas, assim como a reposição de líquidos por via intravenosa. As equipes de saúde podem, também, optar por ações para readequar o fluxo e a pressão sanguínea. Ainda, o uso de ventilação mecânica e intervenções pontuais nos órgãos mais afetados, inclusive cirúrgicas, podem ser necessárias.

 

Talvez nunca saibamos o que realmente levou Madonna à UTI, qual tipo de infeção a cantora teve, qual a sua gravidade. Mas os relatos de pessoas próximas acendem o alerta: infecções precisam ser cuidadas com atenção, e casos de sepse devem ser diagnosticados e tratados o quanto antes.

Estudos apontam que o risco de morte pela sepse aumenta de 4 a 9% a cada hora em que o tratamento é postergado. Ainda assim, cerca de 80% dos pacientes são salvos quando o diagnóstico é rápido e o tratamento começa cedo [4].

Por isso, em casos de infecções prolongadas ou que piorem com o tempo, procure ajuda médica o quanto antes. A sepse pode assustar, mas, assim como aconteceu com a famosa cantora – e para alívio de milhões de fãs angustiados em todo o planeta –, ela pode ser combatida com grande sucesso.

 

 

Referências:

  1. Karakike E, et al. “Coronavirus Disease 2019 as Cause of Viral Sepsis: A Systematic Review and Meta-Analysis.” Crit Care Med. 2021. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34259663/
  2. Almeida NRC, Pontes GF, Jacob FL, Deprá JVS, Porto JPP, Lima FR, et al. Análise de tendência de mortalidade por sepse no Brasil e por regiões de 2010 a 2019. Rev Saude Publica. 2022;56:25. https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2022056003789
  3. https://www.cdc.gov/sepsis/what-is-sepsis.html
  4. Kumar A, et al. “Duration of hypotension before initiation of effective antimicrobial therapy is the critical determinant of survival in human septic shock.” Crit Care Med. 2006;34(6):1589-1596. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16625125/

 

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