A Monkeypox está gerando preocupação em todo o mundo – mas você sabia que ela foi identificada pela primeira vez em 1958? Saiba quais são os sinais e sintomas, como ocorre a transmissão, o quanto a doença é perigosa e como se proteger.
A Monkeypox (também chamada de ‘varíola dos macacos”- de forma equivocada) é a mais recente preocupação de saúde pública global. No momento, quase 60 mil casos foram confirmados, em mais de 100 países. Trata-se de uma doença transmissível e com baixa mortalidade: até o momento, apenas 19 mortes foram registradas (sendo duas delas no Brasil; aliás, o país é o 3º no ranking de mais casos no mundo, com 6 mil confirmados, atrás de Espanha e dos Estados Unidos).
A Monkeypox (MPX) ainda está cercada de dúvidas. Para ajudar a respondê-las, o Blog do Hospital Vera Cruz traz um resumo, em formato de perguntas e respostas, dos principais fatos conhecidos sobre a doença, em temas como ‘origem’, ‘sintomas’ e ‘proteção’. Acompanhe a seguir os pontos mais importantes e aqueles que mais exigem atenção quando o assunto é monkeypox.
QUANDO SURGIU A MONKEYPOX – VARÍOLA DOS MACACOS?
Você sabia que esta não é uma doença nova, tendo sido identificada originalmente nos anos 1950?
A MPX pode parecer uma doença moderna, porém acredita-se que o vírus causador esteja ativo e infectando pessoas há gerações, talvez até mesmo há séculos. O primeiro caso foi documentado em 1958 [1] – nesse ano, a doença foi observada em macacos de laboratório, e é por isso que essa varíola ganhou equivocadamente o nome de “varíola dos macacos”. Vale reforçar: os macacos são vítimas acidentais do vírus, assim como os humanos – sabemos que os verdadeiros hospedeiros do vírus são os roedores. Esse mesmo vírus foi encontrado em seres humanos doentes apenas em 1970.
O vírus monkeypox é endêmico em regiões de florestas tropicais na África Central e Ocidental. Casos da doença são monitorados há várias décadas nestas regiões. Por exemplo, sabe-se que o número de infecções no Congo subiu 14 vezes entre 1980 e 2010 – somente em 2020, mais de 4.600 casos suspeitos foram registrados no país. A Nigéria é outro foco importante da doença, com mais de 500 casos suspeitos tendo sido registrados desde 2017 [2]. Dada a interconexão do mundo moderno e o potencial de transmissão do vírus, não é de se surpreender que ele acabou se espalhando pelo globo logo depois da flexibilização das viagens internacionais pós-pandemia.
Em julho deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou o surto de Monkeypox como uma Emergência de Saúde Pública de Preocupação Internacional [3], o grau mais alto dos alertas da organização. Isso significa que a doença representa um grande risco para a saúde pública, com potencial de se espalhar pelo mundo inteiro e que precisa de coordenação internacional para ser controlada.
A MONKEYPOX É PERIGOSA?
Os sintomas da MPX podem ser dolorosos e demorar várias semanas para sarar (de 02 a 04 semanas), o que torna a doença bastante desagradável. Todavia, o risco de complicações graves para a população no geral é muito baixo. Inclusive, se você for diagnosticado com a MPX, provavelmente não precisará de nenhum tratamento específico – apenas repouso e distância de outras pessoas.
De acordo com a OMS, grávidas, crianças (em especial recém-nascidos) e pessoas imunocomprometidas correm riscos maiores de terem sintomas severos da doença, por isso precisam tomar mais cuidados. Estes são os grupos de maior risco, inclusive com potencial para imunização com vacinas.
ELA É UMA DOENÇA SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEL?
O vírus da Monkeypox passa de pessoa a pessoa por meio do contato físico prolongado ou via objetos de uso pessoal de alguém infectado (especialmente itens de uso íntimo, como toalhas e cobertores). Justamente por isso, assim que o surto começou, logo foi identificado que os principais infectados eram pessoas com vários parceiros sexuais – mais propensas, portanto, às duas ações descritas acima. A partir daí, muitos pensaram que se tratava de uma IST (Infecção Sexualmente Transmissível), o que não é verdade – por dois motivos:
- O primeiro é que a Monkeypox é transmitida pelo contato prolongado com uma pessoa infectada – contato pele a pele, que não precisa ser sexual. É claro que o ato sexual promove um contato mais intenso entre corpos, mas é importante frisar que esta não é a única maneira da transmissão ocorrer. Sabemos também que a doença pode ser transmitida pelo ar, via gotículas de saliva de alguém contaminado, mas certamente o contato com secreções e erupções de pele de pessoas infectadas é a forma mais eficaz de transmissão. As roupas, toalhas e cobertores contaminados também podem ser fonte de transmissão da doença.
- O segundo motivo pelo qual a monkeypox não é considerada uma infecção sexualmente transmissível é que, embora o vírus já tenha sido encontrado em fluidos sexuais como o sêmen, o potencial de transmissão ainda precisa ser elucidado. Enquanto aguardamos novos estudos e dados de literatura, a OMS indica que pessoas diagnosticadas com a doença devem evitar fazer sexo desprotegido por pelo menos 12 semanas após a cura.
QUAIS SÃO OS SINAIS E SINTOMAS DA MONKEYPOX?
Em primeiro lugar, é importante estar atendo aos sinais de duas fases distintas da infecção.
Inicialmente, as pessoas infectadas relatam ter sintomas parecidos com os da gripe, como febre, dores no corpo, calafrios, dores de cabeça e cansaço físico e mental, que podem ser acompanhado pelo aumento dos gânglios. Esses sintomas da primeira fase podem durar de 05 a 10 dias.
Como saber se você está com Monkeypox?
O segundo estágio é o das lesões na pele, que começam com uma mancha elevada e avermelhada, que costuma afetar primeiro o local de contato inicial, e depois pode se espalhar pelo corpo. Estas lesões têm sido encontradas muito frequentemente em região genital, e podem se manifestar apenas por intensa dor ao evacuar ou grande inchaço em glande do pênis. As lesões então progridem para bolhas (com conteúdo líquido), pústulas (com conteúdo amarelado), crostas (com centro umbelicado) e finalmente caem e a pele inicia o processo de cicatrização.
Estes dois estágios da infecção não são regra. Alguns pacientes podem não apresentar estas fases tão distintas, em outros a fase inicial é frustra, mas as lesões de pele são sempre muito dolorosas.
O que mais caracteriza a Monkeypox – e que está em quase todas as fotos que você já deve ter visto sobre a doença – são as erupções de pele, altamente contagiosas.
Aqui no Brasil, estamos saindo do inverno, uma época do ano em que irritações de pele e dermatites são muito comuns, dado o tempo frio e seco. Além disso, diversas doenças (inclusive ISTs) causam problemas de pele, portanto fique calmo caso perceba mudanças na pele e procure um profissional de saúde. Ele saberá avaliar a situação e poderá orientar corretamente sobre os melhores tratamentos.
As erupções melhoraram sozinhas em um período de 03 a 04 semanas, marcando o fim da doença e da fase mais perigosa de transmissão a outras pessoas.
O QUE FAZER PARA ME PROTEGER CONTRA A VARÍOLA DOS MACACOS?
Em primeiro lugar, pessoas diagnosticadas com a doença devem permanecer em repouso e em isolamento, já que se trata de uma doença contagiosa. Evite o contato com pessoas e com animais de estimação. Separe roupas, toalhas e lençóis, para que não sejam utilizados por outros ou sejam lavados junto com peças de pessoas não-infectadas. Não use lentes de contato, evite tocar os olhos, para que não haja contaminação. É um período chato, mas que passa rápido.
Para a população em geral, a orientação no momento é a de tomar muito cuidado com contatos físicos com outras pessoas – e isso acaba recaindo na questão sexual da doença. É fundamental conversar com parceiros e parceiras sobre quaisquer problemas de saúde ou alterações observáveis de pele.
Segundo Tedros Adhanom, diretor da OMS, “No momento, [indica-se] reduzir o número de parceiros sexuais, reconsiderar o sexo com novos parceiros e trocar detalhes de contato com novos parceiros para permitir o acompanhamento, se necessário”.
Se for fazer sexo, a orientação é utilizar preservativo sempre, protegendo o corpo contra diversas doenças e evitando lesões e contato direto com a pele da região genital.
HAVERÁ VACINAS CONTRA A DOENÇA?
(e será que elas chegam ao Brasil?)
Como vimos no início do texto, a Monkeypox não é uma doença nova. Você sabia que vacinas contra ela já existem?
Há duas vacinas contra Monkeypox, consideradas eficazes em evitar infecção ou em minimizar a gravidade da doença quando aplicadas após exposição. Infelizmente, não são produzidas em quantidades suficientes para imunizar toda a população. Os cientistas analisam agora qual será a população-alvo para imunização.
Em estudos recentes realizados na África [4], duas das vacinas existentes mostraram ter 85% de eficiência na proteção contra o vírus. Elas podem ser administradas até 04 dias após o contato com o vírus para proteger contra a infecção (período de incubação é de 05 a 21 dias após esse contato), ou ainda logo após o inicio da doença, minimizando os sintomas.
Além das vacinas, casos graves podem ser tratados com o antivirais como Tecovirimat ou Cidofovir (não disponível no Brasil no momento).
Aqui no Brasil, o Ministério da Saúde informou [5] ter adquirido 50 mil doses de vacina contra o MPX, em coordenação junto à Organização Pan-Americana da Saúde e à OMS. O Ministério ressaltou que as vacinas serão apenas para “profissionais de saúde que manipulam as amostras recolhidas de pacientes e pessoas que tiveram contato direto com doentes”, uma vez que não há recomendação da OMS para vacinação em massa contra a doença.
Em resumo: a MPX é uma doença que existe há muito tempo, é facilmente transmissível e está em surto no momento. Surto este que deve passar rápido, se as pessoas infectadas se cuidarem. A taxa de mortalidade é baixa, mas grupos de risco precisam estar atentos. Vacinas eficientes já existem e novas estão a caminho, porém o risco de contágio para a população geral não é alto o suficiente para justificar uma campanha maciça de vacinação. Enquanto novos dados e informações não chegam, o importante é estar atento aos sintomas da doença, tanto em você mesmo quanto em parceiros sexuais, e reduzir por ora o número de parceiros diferentes, para que o contato direto seja evitado e o surto atual termine mais rápido.
PARA SABER MAIS
- https://www.cdc.gov/poxvirus/monkeypox/index.html; ver também https://www.who.int/news-room/questions-and-answers/item/monkeypox
- Eveline M. Bunge,Bernard Hoet ,Liddy Chen,Florian Lienert,Heinz Weidenthaler,Lorraine R. Baer,Robert Steffen. The changing epidemiology of human monkeypox—A potential threat? A systematic review. PLOS Neglected Tropical Diseases, February 11, 2022. https://journals.plos.org/plosntds/article?id=10.1371/journal.pntd.0010141; ver também https://www.cdc.gov/poxvirus/monkeypox/response/2022/world-map.html
- https://www.who.int/news-room/questions-and-answers/item/emergencies-international-health-regulations-and-emergency-committees
- https://www.cdc.gov/poxvirus/monkeypox/clinicians/treatment.html
- https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/agosto/vacinacao-em-massa-contra-variola-dos-macacos-nao-e-recomendada-pela-oms