Nunca houve tantos casos de dengue no Brasil quanto em 2024. Mas o que a doença causa internamente em nosso corpo e por que ela é tão perigosa?
2024 tem sido o ‘ano da dengue‘ no Brasil. Apenas em janeiro, foram mais de 240 mil casos notificados, 273% a mais que no ano passado. Em menos de 02 meses, o país já atingia a marca de um milhão de casos. Em meados de março, o número chegava perto dos 02 milhões (entre casos prováveis e confirmados). É um aumento sem precedentes na série histórica de monitoramento do governo, iniciada em 2000.
Neste ano, mais de 630 mortes pela doença foram confirmadas, com outras 1.000 sob investigação.
Vamos conhecer, a seguir, detalhes sobre esta perigosa doença, entendendo como o vírus é capaz de afetar, de forma bastante perniciosa, o corpo humano.
Os casos mais graves de dengue atingem pessoas com 80 anos ou mais, portanto atenção especial deve ser dada à proteção dos idosos contra a picada do mosquito. Pessoas com doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, também correm riscos maiores de sintomas severos da doença.
Os ’04 tipos’ de dengue
A dengue é uma doença grave, capaz de afetar diversos órgãos e sistemas do corpo, como veremos a seguir. Ela é causada por um vírus, conhecido como DENV, presente na picada do mosquito Aedes aegypti. Para quem gosta de ciências: o vírus da dengue é classificado na família Flaviviridae, gênero Flavivirus.
Existem 04 ‘tipos’ diferentes desse vírus (são os chamados ‘sorotipos’), conhecidos como DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Quando você ler menções à “dengue 1”, “dengue 2”, “dengue 3” e “dengue 4”, trata-se desses 04 sorotipos diferentes. Apesar dos nomes distintos, a doença que eles causam é exatamente a mesma. Os vírus têm essa classificação por causa do conteúdo genético que carregam, não dos sintomas que geram.
Por conta desses 04 sorotipos, uma pessoa pode pegar dengue até 04x durante a vida.
Após curar-se de uma infecção pelo DENV-1, por exemplo, o organismo está protegido contra esse sorotipo específico, mas não contra o DENV-2, 3 ou 4. Em outras palavras: uma pessoa que foi picada por um pernilongo contaminado com o DENV-1 poderá ficar doente com “dengue-1”; uma vez curada, mesmo que seja picada novamente por pernilongos contaminados com o DENV-1, não terá mais a doença. Todavia, não haverá imunidade contra os demais sorotipos: se ela for picada por um Aedes com DENV-2, 3 ou 4, poderá ficar doente de dengue novamente.
Algumas pesquisas indicam que a imunidade contra um sorotipo do vírus da dengue pode até favorecer a infecção por outros sorotipos: os anticorpos de um sorotipo podem ‘facilitar’ a entrada de outros sorotipos nas células.
Como vimos, os sorotipos causam os mesmos sintomas no corpo (saiba mais a seguir) – o perigo é a infecção recorrente pelos vírus da dengue, que pode resultar na forma hemorrágica da doença, esta potencialmente letal e que exige tratamento médico adequado.
A maneira como a dengue é transmitida é pela picada do mosquito. Uma pessoa doente não transmite diretamente dengue a outras, seja via contato, seja por secreções. Até mesmo transmissões de mãe para filho durante a gestação ou via transfusão sanguínea são muito raras.
Sinais e sintomas da dengue – quando é preciso estar atento
Depois que o mosquito pica uma pessoa e transmite o vírus da dengue, demora um pouquinho para os sintomas aparecerem. Estima-se que haja um intervalo de 04 a 10 dias entre a picada em si e o início dos sintomas.
Os principais sintomas da dengue são:
- Febre alta (39 a 40ºC), com início repentino e durando de 02 a 07 dias. Depois que a febre baixa, é possível que surjam os outros sintomas descritos abaixo, indicando uma piora no estado da pessoa.
- Dores:
- Dor no corpo, especialmente nas articulações
- Dor de cabeça
- Dor atrás dos olhos
- Manchas vermelhas pelo corpo (pintinhas vermelhas), que podem ou não coçar
- Mal-estar e falta de energia
Também é comum a sensação de enjoo e de muito cansaço.
Caso você tenha febre e sinta 02 ou mais dos sintomas acima, procure o serviço de saúde mais próximo para diagnóstico e início dos tratamentos.
O que a dengue pode causar no corpo?
Entenda por que a dengue é tão perigosa
Com a explosão no número de casos da doença no Brasil, estima-se que uma parcela grande da população já foi picada por pernilongos contaminados com o vírus da dengue. Felizmente, muitas pessoas conseguirão lidar com o vírus de forma rápida e natural – o sistema imune identificará o problema e destruirá o invasor. Outras podem até ‘lutar’ internamente contra o vírus por mais tempo, ainda assim sem apresentar sintomas. Mas, para muitos, a infecção viral poderá se expandir ao longo de uma semana; por onde passar, o vírus da dengue é capaz de causar danos.
Algumas das principais consequências da dengue no organismo são:
Desidratação: pode ocorrer de forma grave e é um dos fatores que mais levam a internações.
Problemas no fígado: quando não tratada, a dengue pode resultar em hepatite e insuficiência hepática aguda. Casos graves podem gerar danos irreversíveis ao órgão.
Problemas no coração: o vírus da dengue pode atingir, também, o coração e tecidos ao redor dele, causando inflamação. Miocardite e pericardite são consequências conhecidas da doença.
Problemas neurológicos: estas são algumas das consequências mais graves da doença. Caso o vírus da dengue atinja o sistema nervoso central, pode causar reações como encefalopatia, encefalite, meningite asséptica e até mesmo sangramento intracraniano. Se atingir a medula espinhal e nervosos, pode causar inflamação e desencadear a Síndrome de Guillain-Barré, que causa paralisia e fraqueza muscular.
Problemas respiratórios: estar com dengue aumenta os riscos de ter um derrame pleural, que é o acúmulo de líquidos no pulmão, dificultando a respiração, causando fortes tosses e dores no peito.
Problemas renais: continuando sua jornada ‘destrutiva’ pelo corpo, o vírus da dengue é também capaz de afetar negativamente a saúde dos rins e do sistema circulatório, causando problemas como a síndrome hemolítico urêmica e doença renal aguda, ambas bastante perigosas e que exigem tratamento médico imediato.
Por isso, fique atento(a): sintomas como sangramentos de mucosas, acúmulo de líquidos na região torácica, vômitos frequentes, fortes dores abdominais e hemorragias podem ser indícios de dengue severa, e precisam ser tratados por equipes de saúde o mais rápido possível.
O que é a dengue hemorrágica?
A dengue hemorrágica é a forma mais perigosa da doença, resultante de uma segunda (ou terceira, ou quarta) infecção pelo vírus. Chama-se ‘hemorrágica’ porque gera alterações na coagulação do sangue, aumentando a incidência de sangramentos e outros problemas relacionados ao fluxo sanguíneo.
Ela está relacionada à principal causa de morte pela doença: o chamado ‘choque circulatório’, que ocorre quando há uma queda brusca na pressão arterial, com grave insuficiência circulatória. Isso acontece porque o sangue da pessoa doente, ao invés de ‘navegar’ pelo corpo dentro dos vasos sanguíneos, acaba escapando dos vasos, extravasando, o que faz a pressão cair e impede a correta distribuição de oxigênio e nutrientes pelo corpo. Isso pode gerar consequências gravíssimas, como a falência múltipla de órgãos.
Prevenção e vacina
No final do ano passado, a vacina contra a dengue foi incorporada ao SUS, o que coloca o Brasil como o 1º país do mundo a oferecer o imunizante pelo sistema público de saúde. Em fevereiro deste ano, esta vacina entrou oficialmente no calendário vacinal anual. Antes, uma outra vacina contra a doença já podia ser encontrada, mas apenas na rede privada.
A vacina do SUS contém os 04 sorotipos do vírus da dengue atenuados, portanto oferece proteção contra todas as ‘variantes’ conhecidas da doença.
A vacina é indicada para pessoas de 04 a 60 anos. Ela é aplicada em 02 doses, com 03 meses de intervalo. Segundo o governo, menos de 10% do público-alvo da campanha de vacinação foi imunizado até agora.
Além da vacina, vale notar que a dengue, mesmo nos casos em que os sintomas são leves, precisa ser cuidada com máxima atenção. As pessoas infectadas pelo vírus devem:
- Manter repouso;
- Caprichar na ingestão de líquidos;
- Não se automedicar;
- Procurar imediatamente o serviço de urgência caso perceba sangramentos ou surgimento de pelo menos um sinal de alarme (que são: acúmulo de líquidos na região torácica, vômitos frequentes e fortes dores abdominais).
A dengue está mais forte do que nunca este ano. Proteja-se. Planeje tomar a vacina contra a doença, faça uma ‘revisão’ em seu lar em busca de água parada, utilize repelente ao longo do dia e evite permanecer em locais em que há presença de pernilongos (como parques e praças durante o pôr do sol). Todo o cuidado é pouco nesta época de emergência.
Para saber mais:
- Centro de Operações Emergenciais, Ministério da Saúde – Informes semanais sobre a dengue: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/arboviroses/informe-semanal/