Nipah: como o vírus com taxa de mortalidade de 70% está sendo controlado - Blog - Hospital Vera Cruz

10/10/2023

Nipah: como o vírus com taxa de mortalidade de 70% está sendo controlado

Em setembro, um novo surto do vírus Nipah na Índia gerou preocupação internacional. Saiba qual doença ele provoca, como é transmitido e quais as chances de chegar ao Brasil e o que as autoridades de saúde têm feito para mantê-lo sob controle. 

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Em meados de setembro, centenas de escolas e estabelecimentos comerciais foram fechados na Índia por causa de um novo surto de doença viral. Desta vez, não era COVID – era o vírus Nipah que estava assustando as autoridades e a população.

Desde 2018, já houve 04 surtos desse vírus na região. Agora em 2023, 05 pessoas foram contaminadas e, delas, 02 morreram. O governo não perdeu tempo e decretou isolamento da região.

Mas o que é o vírus Nipah, o que ele causa no corpo – e quais as chances de se tornar um perigo também aqui no Brasil? Vamos conhecê-lo.

 

Por que o Nipah é tão perigoso?

As estatísticas médicas mostram um índice de mortalidade do vírus Nipah acima dos 70% – uma taxa altíssima, comparável a alguns dos vírus mais letais conhecidos. Como comparativo, a COVID-19, antes das vacinas, tinha um índice de letalidade de 3%.

Os vírus mais perigosos que se conhece são o Marburg e o Ebola, com taxas de mortalidade acima de 90%. O Nipah, portanto, não está muito atrás…

A primeira vez que o vírus foi identificado foi em 1999, quando cerca de 300 pessoas foram infectadas na Malásia e em Singapura. Destas, mais de 100 morreram. Desde então, a Organização Mundial da Saúde catalogou mais de 600 casos do vírus Nipah em humanos entre os anos de 1998 e 2015. A taxa de mortalidade varia entre 72% e 86% (algumas fontes apontam mortalidade entre 40% e 70% – de qualquer maneira, bastante altas).

Naquele ano de 1999, o vírus causou grande susto sanitário e um enorme impacto econômico – mais de 1 milhão de porcos foram mortos a fim de conter a propagação viral.

Em 2021, houve o primeiro surto indiano do vírus. 91 pessoas foram infectadas, com 62 mortes (ou seja, aprox. 70% de letalidade). Depois, em 2018, o segundo surto indiano levou a 21 mortes. Houve outros surtos em 2019 e 2021. Por isso, quando novos casos foram identificados agora em 2023, o governo da Índia agiu energicamente, a fim de evitar a propagação do vírus o mais rápido possível.

 

 

De onde ele vem?

Morcegos frugívoros da família Pteropodidae (particularmente, espécies do gênero Pteropus) são o reservatório do vírus na natureza. Por isso, o Nipah é considerado um vírus zoonótico, isso é, transmitido de animais para humanos.

Nesses morcegos, o vírus não causa doença alguma.

Os morcegos foram logo identificados como a ‘fonte’ do Nipah por meio de análises genéticas. Os cientistas perceberam grandes semelhanças entre o Nipah e um outro vírus de morcegos que pode causar doenças em humanos, o Hendra. A partir desse dado, os pesquisadores estudaram de que maneira morcegos contaminados passaram o vírus para seres humanos – veja as conclusões logo abaixo!

 

Sintomas do vírus Nipah

Inicialmente, as pessoas infectadas com o Nipah desenvolvem sintomas bastante comuns, que podem ser confundidos com outras doenças infecciosas. Dentre eles:

  • Febre
  • Dificuldade para respirar
  • Dores de cabeça
  • Dores musculares
  • Dor de garganta
  • Vômitos

Após a exposição inicial ao vírus, esses sintomas acima aparecem em 04 a 14 dias. A partir daí, começa um período de cerca de 02 semanas em que os sintomas se intensificam e pode haver complicações.

Conforme a doença progride, surgem sintomas mais perigosos, como encefalite (inflamação do cérebro) e convulsões. Nesta fase, é comum o paciente sentir-se desorientado, com confusão mental e sonolência. Em um curto espaço de tempo – de 24 a 48h desde o início deste tipo de sintoma -, o paciente geralmente entra em coma. O risco de falecer, nestes casos, é bastante elevado.

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Existe vacina?

Ainda não. Pessoas doentes com o Nipah são tratadas de forma paliativa, o que inclui descanso, hidratação e medicamentos para melhorar os sintomas da doença, mas ainda não há medidas terapêuticas específicas contra o vírus.

No momento, existem alguns medicamentos em estudo para tratamento contra o vírus Nipah. A imunoterapêutica (terapias com anticorpos monoclonais) parece ser promissora, e testes clínicos estão em andamento.

 

Como se pega o vírus?

Apesar dos números assustadores de letalidade, a maneira como o vírus é transmitido traz um alento de que dificilmente ele se transformará em uma séria ameaça global.

Até o momento, sabe-se que uma pessoa fica doente com o Nipah entrando em contato direto com animais contaminados (especialmente morcegos e porcos) ou com seus fluidos corporais (como sangue, saliva e urina).

É possível, também, pegar o vírus ingerindo alimentos contaminados. Se um morcego carregando o Nipah comeu um pedaço de uma fruta, por exemplo, e depois um ser humano também se alimenta dessa fruta, poderá ficar doente. Acredita-se que essa é uma das formas pelas quais porcos – notórios comedores de tudo o que encontram pela frente – acabam adquirindo a doença.

Uma vez contaminada, há o risco de uma pessoa passar o vírus para outra, por meio de fluidos corporais (gotículas nasais, urina, sangue etc). Por isso, há enorme cuidado nas instalações médicas que cuidam destes pacientes, com isolamento reforçado e fortes medidas de higiene.

 

O vírus está controlado ou poderá ser uma nova pandemia? Há riscos aqui no Brasil?

Vírus com alta taxa de mortalidade sempre assustaram. Desde a pandemia de 2020, porém, os cuidados das autoridades de saúde têm sido ainda mais intensos quando casos de doenças fora do comum começam a surgir.

Na Índia, a detecção de casos de Nipah este ano causou uma grande comoção no país, e o governo agiu rapidamente para brecar o avanço da doença. O que foi feito?

 

RASTREANDO CASOS

Uma vez que ainda não há vacinas contra o Nipah, uma das medidas mais eficazes adotadas na Índia foi o monitoramento da população.

Testes em massa foram realizados, buscando identificar o maior número possível de pessoas infectadas (mesmo antes que os sintomas surgissem) e rastrear quem entrou em contato com elas. Logo nos primeiros dias do surto, mais de 700 pessoas foram avaliadas na região indiana em que os casos foram reportados. Qualquer pessoa com suspeita da doença ou que tenha entrado em contato nos últimos 15 dias com um infectado é avaliado e monitorado.

 

MEDIDAS SANITÁRIAS

Além disso, medidas sanitárias estritas foram aplicadas – o que incluiu o fechamento de locais públicos – e grandes campanhas de conscientização entraram no ar, ensinando o público sobre as formas de higiene mais eficazes e os perigos do contato com animais como morcegos e porcos.

 

Risco de pandemia de Nipah?

Por isso mesmo, acredita-se que há um risco mínimo do vírus Nipah se tornar um problema global. Tanto o governo indiano quanto organizações internacionais de saúde estão aplicando total atenção ao assunto, e é muito provável que o surto seja contido.

Outro ponto importante é que, como vimos acima, o vírus Nipah é transmitido por morcegos contaminados, especialmente aqueles do gênero Pteropus. A distribuição geográfica destes animais é bastante específica, como mostra o quadro abaixo (eles não são encontrados no Brasil, por exemplo).

Sabe-se que há morcegos deste gênero em países do sudeste asiático e da Oceania, como Austrália, Bangladesh, Butão, Brunei, Birmânia, Camboja, China, Guam, Índia, Indonésia, Laos, Ilhas Marianas, Malásia, Nepal, Paquistão, Palau, Papua Nova Guiné, Filipinas, Singapura, Sri Lanka, Taiwan, Tailândia, Timor- Leste e Vietnã.

Sendo assim, epidemiologistas concordam que as chances de uma “pandemia de Nipah” ocorrer são muito baixas, mesmo em um mundo globalizado e com viagens internacionais ocorrendo normalmente.

É interessante notar, todavia, como a presença de pouquíssimos casos de um vírus perigoso – relembrando, foram apenas 05 detectados este mês – já acende um alerta global e estimula a adoção de medidas enérgicas a fim de conter a transmissão. Talvez alguns ensinamentos trazidos pela COVID-19 já tenham se enraizado.

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