Você está dormindo bem? E quanto tempo você separa para dormir? Você dorme sozinho(a) ou acompanhado(a)? Saiba as últimas descobertas científicas sobre o que influencia o sono e seus impactos na saúde.
No último mês, centenas de médicos e pesquisadores do mundo inteiro se reuniram nos Estados Unidos para debater as mais recentes descobertas sobre um tema bem especial a todos: o sono. Esta é uma das áreas mais ‘quentes’ das pesquisas científicas nas últimas décadas, já que evidências se acumulam sobre a enorme influência de uma boa noite de sono na saúde, seja no curto, seja no longo prazo.
O sono é uma das áreas mais ‘quentes’ das pesquisas científicas modernas! Há inúmera evidências de que ele é fundamental para a boa saúde, o bom envelhecimento e a qualidade de vida no geral.
Durante o evento, uma discussão em especial ganhou força: a de que todo mundo está ciente da importância de dormir bem, mas poucos agem a fim de melhorar a qualidade do sono. Em outras palavras: tanto médicos quanto pacientes compreendem – talvez até por experiência própria! – que dormir bem faz bem, mas conversar sobre o sono ainda é raríssimo no consultório, e poucas pessoas fazem o esforço de deixar as distrações noturnas de lado e tentar dormir um pouquinho mais e melhor.
Apesar do sono ser uma parte tão fundamental da nossa saúde (tão importante quanto o que comemos ou a quantidade de exercícios físicos praticados), ele ainda é negligenciado. As consequências para a saúde podem ser enormes, como provam alguns dos destaques apresentados no evento.
Confira a seguir algumas das principais e mais recentes descobertas sobre o sono e seu impacto no dia a dia, conforme apresentadas no encontro anual SLEEP:
SONO E HIPERTENSÃO
Um estudo [1] que analisou padrões de sono de mais de 2 milhões de noites e dados de pressão sanguínea mostrou que irregularidades na duração do sono e na hora que as pessoas dormiam estavam associadas a riscos maiores de hipertensão.
Os pesquisadores descobriram que quem dorme um número fixo de horas por noite e vai para cama mais ou menos no mesmo horário todos os dias, mantendo um padrão constante, tem riscos menores de problemas cardiovasculares. O estudo aponta, por exemplo, que irregularidades na duração do sono foram associadas a um aumento de até 15% nos riscos de hipertensão. O trabalho monitorou mais de 12 mil participantes em todo o mundo, pessoas de 18 a 90 anos, por meio de aparelhos instalados nos colchões e por monitores portáteis de pressão.
O IMPACTO DO RONCO
Outro estudo [2] apresentado mostrou que pessoas que roncam bastante durante a noite ou que tem apneia do sono são menos ativas no dia a dia – um problema grave, com repercussões na qualidade de vida, na cognição e até mesmo nos relacionamentos. Os pesquisadores analisaram dados coletados ao longo de três anos e descobriram que ‘roncadores’ frequentes tinham 36 minutos a mais de atividades sedentárias ao longo do dia (uma indicação de cansaço físico ou mental) quando comparados com quem não roncava. Para casos de apneia, esse número salta para 44 minutos sedentários diários.
DORMINDO COM A COVID
Sua rotina do sono mudou depois da pandemia da COVID-19? Se a resposta for positiva, você não está sozinho(a). Três estudos mostraram como o novo coronavírus trouxe repercussões até mesmo para a cama.
Começando pelos mais jovens: um dos trabalhos [3] analisou os padrões de sono de mais de 5 mil adolescentes norte-americanos, de 11 a 14 anos – uma faixa etária em rápido desenvolvimento, em que o sono é fundamental. Os resultados mostram que, desde 2020, os jovens foram dormir mais tarde, acordaram mais tarde e aumentaram expressivamente a quantidade de tempo grudados nas telinhas à noite, em redes sociais e videogames. Essas tendências, que se iniciaram na época das quarentenas, continuou ao longo de 2021, quando a vida já estava ‘voltando ao normal’ em boa parte do país, e parece não estar diminuindo, o que acendeu o sinal de alerta entre pais e especialistas.
Durante a pandemia da COVID, você dormiu mais ou menos? Veja nesta seção como seus hábitos se comparam aos resultados das pesquisas mais recentes.
Se os adolescentes estão dormindo pior, adultos parecem ter se adaptado um pouco melhor à rotina da COVID. Um trabalho adicional [4], que analisou dados de mais de 160 mil usuários de um relógio bem popular nos Estados Unidos e que monitora parâmetros de saúde, descobriu que, durante a pandemia da COVID, as pessoas dormiram de 5 a 11 minutos a mais do que o ‘normal’ anterior. Isso é interessante, porque em 2019, antes da pandemia, houve uma tendência de redução nas horas de sono, de 5 a 8 minutos a menos. Além disso, ao longo de 2020, a rotina de sono pareceu melhorar para muitas pessoas, principalmente porque a quantidade de horas dormidas durante dias úteis e finais de semana ficou cada vez mais parecida.
Apesar da pandemia e dos lockdowns terem mudado a rotina de milhões de pessoas e terem contribuído para padrões de sono que podem até ser positivos, muitos ainda sofrem severamente as consequências do novo coronavírus. Um estudo sobre o impacto da COVID-19 [5] descobriu que cerca de 50% das pessoas que tiveram sequelas graves da doença têm dificuldades para dormir, mesmo estando curadas há vários meses, e mais de 60% afirmaram que sentem constante cansaço durante o dia.
O QUE É MELHOR? DORMIR SOZINHO OU ACOMPANHADO?
Um dos estudos [6] mais interessantes apresentados no congresso analisou dados de mais de 1000 adultos e descobriu a resposta a esta questão: por incrível que possa parecer para muita gente, dormir com seu parceiro/sua parceira foi correlacionado a inúmeros benefícios, como menos insônia, menos fadiga, mais tempo dormido, menos tempo até cair no sono, menos ‘acordadas’ ao longo da noite, menores chances de apneia do sono, e até mesmo menos depressão, ansiedade e stress. Mas nem sempre dormir acompanhado é bom: quem dormia com os filhos reportou mais insônia, menor controle sobre o sono, maiores riscos de apneia e mais stress no geral.
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Como mencionamos acima, o sono é uma parte integral da saúde humana, sendo importantíssimo para o corpo e a mente se desenvolverem e se fortalecerem da maneira correta. Uma noite mal dormida traz reflexos imediatos no dia seguinte, com cansaço, mal humor, problemas de concentração…diversas noites mal dormidas, porém, podem impactar a saúde de maneiras ainda mais severas.
Dormir bem nem sempre é fácil. Mas já está provado que é algo pelo qual vale a pena se esforçar. Em sua próxima consulta médica, aproveite a oportunidade e converse sobre os padrões de sono e o que fazer para ter uma noite mais agradável e bem aproveitada. Atualmente, há técnicas, medicamentos e estratégias que até mesmo os mais insones podem utilizar para garantir uma noite muito bem dormida – seu corpo agradece.
Para saber mais:
- Congresso SLEEP: https://www.sleepmeeting.org/
- [1] Sleep Irregularity Is Associated with Increased Risk of Hypertension: Data From Over Two Million Nights. Hannah Scott, Bastien Lechat, Amy Reynolds, Nicole Lovato, Pierre Escourrou, Peter Catcheside, Danny Eckert. Sleep, Volume 45, Issue Supplement_1, June 2022, Pages A93–A94, https://doi.org/10.1093/sleep/zsac079.202.
- [2] Population-Level Snoring and Probable Sleep-Disordered Breathing Associated with Greater Sedentary Activity. Harun Abdi, Brooke Mason, Chloe Wills, Andrew Tubbs, William Killgore, Michael Grandner. Sleep, Volume 45, Issue Supplement_1, June 2022, Page A313, https://doi.org/10.1093/sleep/zsac079.710
- [3] Screen time and sleep in young adolescents before and across the first year of the COVID-19 pandemic. Orsolya Kiss, Massimiliano de Zambotti, Emil Schaefer, Ingrid Durley, Erin Kerr, Teji Dulai, Nicole Arra, Todd Obilor, Leticia Camacho, Carrie Hsu, Fiona Baker. Sleep, Volume 45, Issue Supplement_1, June 2022, Pages A22–A23, https://doi.org/10.1093/sleep/zsac079.047
- [4] Longitudinal Changes in Sleep Duration, Timing, Variability, and Stages during the COVID-19 Pandemic: Large-Scale Fitbit Data. Michael Grandner, Naghmeh Rezaei. Sleep, Volume 44, Issue Supplement_2, May 2021, Page A86, https://doi.org/10.1093/sleep/zsab072.213
- [5] Sleep Disturbances in Post-Acute Sequelae of COVID-19. Presenter: Dr. Cinthya Pena Orbea. Abstract ID: 0735. Oral Presentation Date: Monday, June 6, 2:15-2:30 p.m., Richardson Ballroom B. Poster Presentation Date: Tuesday, June 7, 5:15-7:15 p.m., Board 176
- [6] Bed Sharing Versus Sleeping Alone Associated with Sleep Health and Mental Health. Brandon Fuentes, Kathryn Kennedy, William Killgore, Chloe Wills, Michael Grandner. Sleep, Volume 45, Issue Supplement_1, June 2022, Page A4, https://doi.org/10.1093/sleep/zsac079.009. Published: 25 May 2022