Entenda as razões do aumento no número de espirros nos próximos meses – e saiba o que fazer para se proteger das doenças do outono!
Você já está percebendo a mudança no ar?
O outono começou dia 20 deste mês de março e muitas pessoas já notaram alterações no tempo – em alguns locais, os dias parecem estar mais quentes do que antes; em outros, mais frios ou chuvosos. Ao longo dos próximos meses, todavia, o Brasil inteiro começará a sentir lufadas de ar mais geladas, especialmente à noite. E milhares de pessoas talvez sintam, também, os sintomas de algumas das doenças mais comuns para esta época do ano.
Nos próximos meses, alguém que você conhece com certeza ficará gripado. E, se a tendência histórica se mantiver, muito possivelmente veremos matérias nos jornais sobre aumento nas internações por Síndrome Respiratória, lotando hospitais e casas de saúde.
Aliás, isso já está acontecendo: a Secretaria Municipal de Saúde de Campinas, por exemplo, notificou um aumento de 100% no número de internações pediátricas por síndromes respiratórias na cidade desde fevereiro deste ano [1].
Por que tantas pessoas ficam doentes durante o outono? Quais são as doenças mais prevalentes nesta estação? E quais são os meios mais eficientes para manter a saúde fortalecida e passar incólume pelos próximos meses? É o que veremos a seguir.
Por que tanta gente pega doenças no outono?
No Brasil, o outono é sinônimo de dias mais secos e mais frios. Essa combinação pode impactar consideravelmente a saúde – em especial quando dias bem gelados são intercalados a dias de temperaturas escaldantes, o que não é incomum por aqui.
Em 2023, mudanças bruscas de temperatura talvez sejam ainda mais comuns, de acordo com meteorologistas. Especialmente nas regiões sul e sudeste, teremos dias de forte calor, com passagens de frentes frias que derrubarão a temperatura por um ou dois dias.
Além das mudanças de temperatura, a baixa umidade do ar, aliada à falta de chuvas, aumenta a concentração de poluentes na atmosfera, o que gera diversos problemas respiratórios.
Outro problema dos dias frios: as pessoas costumam ficar em ambientes mais fechados, com pouca circulação de ar, o que favorece infecções por vírus respiratórios.
Somando todos estes fatores, algo se torna evidente: no outono, manter a saúde pode ser um pouquinho mais difícil do que o normal, exigindo cuidados e atenção redobrados.
Mesmo com tantos elementos favorecendo uma queda na imunidade, será que é possível evitar as doenças do outono e passar os próximos meses sem nenhum espirro?
Quais são as doenças mais comuns durante os meses do outono?
Doenças respiratórias são os ‘hits’ do outono, afetando especialmente crianças e idosos. Felizmente, não é necessário estar à mercê destas infecções: para boa parte delas, já há novas vacinas disponíveis nas redes pública e privada. E sempre é possível adotar medidas adicionais de proteção, como veremos a seguir.
As doenças mais comuns no outono são:
- Gripe e resfriado
- Crises de asma
- Bronquite
- Sinusite
- Pneumonia
Cuidados com a gripe durante o outono
Gripes e resfriados são, de longe, as doenças mais comuns nesta época do ano. Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) [2] do Ministério da Saúde mostram que a circulação do vírus da gripe, por exemplo, costuma atingir o pico nos meses de abril e maio, justamente durante o outono – e não durante o inverno, como muitos imaginam.
A gripe é uma doença grave, que causa complicações e pode ser seríssima em pessoas com imunidade baixa. Mesmo os mais jovens podem ser comprometidos de forma grave: estima-se que, a cada ano, pelo menos 1 milhão de crianças com menos de 05 anos são hospitalizadas devido a complicações causadas pela gripe [3].
O ano de 2023 mal começou e, como vimos acima, hospitais já estão recebendo um número alto de crianças com síndromes respiratórias, consequências de gripes e resfriados mais fortes. Além da sazonalidade, um outro fator ainda muito recente na memória pode ajudar a explicar essa tendência:
“Existem teorias para explicar [esse aumento no número de internações pediátricas]”, explicou o médico Sidney Volk, pediatra do Vera Cruz Hospital, em entrevista ao telejornal EPTV 1 [4].
“Nós tivemos 02 a 03 anos de distanciamento social e reclusão por conta da pandemia. As crianças que nasceram na pandemia são crianças com uma ‘pobreza imunológica’, que não foram expostas regularmente – como sempre aconteceu nos anos anteriores – a esses vírus respiratórios, portanto não criaram uma memória imunológica protetiva para eles. Então, elas acabam, muitas vezes, tendo uma reinfecção muito frequente e apresentando quadros de maior gravidade, o que acaba levando essas crianças aos hospitais”, detalhou o pediatra.
Evitar gripes e resfriados é importante, também, porque ficar doente pode levar a quedas na imunidade e abrir caminho para outras doenças ainda mais perigosas e desagradáveis. Durante o outono, não é incomum que um resfriado seja a porta de entrada a infecções bacterianas como sinusite e pneumonias, que ‘aproveitam’ a baixa no sistema imune para atacar o organismo.
Como se proteger das doenças do outono?
Três dicas práticas são as mais importantes quando o assunto é proteção da saúde contra as ‘doenças do outono’. São elas:
- Ambientes ventilados
- Vacinação e
- Uso da água, seja para tomar (hidratação), seja para lavar frequentemente as mãos
Ambientes ventilados
Doenças como a gripe e a COVID-19 são transmitidas por vírus. Uma pessoa infectada libera no ar ao seu redor pequenas partículas, seja no formato de gotículas, seja de aerossóis (gotículas ainda menores, que ficam mais tempo no ar), que contêm esses vírus [5]. A pessoa não precisa estar gritando, espirrando ou tossindo para liberar essas partículas: simplesmente ao respirar, os vírus já são expelidos de seu corpo para o ambiente.
As partículas carregadas de vírus podem ser respiradas por pessoas próximas, podem entrar em contato com olhos e boca de outros, ou podem permanecer no ambiente, suspensas no ar ou depositadas em superfícies. Em outras palavras: após serem expelidas por alguém contaminado, essas partículas não ‘somem’ imediatamente do ambiente. Quanto mais tempo uma pessoa estiver em contato com elas, ou quanto maior for a quantidade dessas partículas no ambiente, maiores as chances de contaminação.
Pesquisas mostram que gotículas de saliva podem permanecer no chão ou em superfícies por até 48 horas, e aerossóis podem ficar no ar por várias horas [6]. Tudo isso favorece a infecção de terceiros.
Assim, apesar do vento gelado e do friozinho no final do dia, manter a ventilação em todos os ambientes da casa é uma das dicas mais importantes para o outono. A ventilação ajuda a renovar o ar interno, levando embora partículas carregadas de vírus e diminuindo as chances de uma infecção [7].
Higienização das mãos
As mãos são um dos meios mais comuns de se contrair doenças.
Estamos o tempo inteiro tocando nos mais diversos objetos, muitos deles manipulados por dezenas de pessoas antes de nós. Ninguém garante que as mãos que tocaram uma maçaneta ou um botão do elevador, por exemplo, estavam limpinhas. É muito fácil que sujeirinhas, microrganismos e vírus – até mesmo vindos das gotículas que discutimos acima – sejam transmitidas dessa forma.
Lavar as mãos com frequência (e por pelo menos 20 segundos, para garantir uma boa limpeza [8]) foi uma das dicas mais difundidas durante a pandemia da COVID-19. E essa experiência precisa ser mantida – vamos mostrar alguns dados científicos que comprovam a importância de se lavar as mãos!
De acordo com estudos, o simples ato de manter uma boa higienização das mãos resulta em:
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- Redução de até 20% nas doenças respiratórias [9, 10], especialmente em crianças;
- Redução de até 60% nos casos de diarreia em pessoas com sistema imune fragilizado [11]
Você sabe quantas pessoas lavam direitinho as mãos após ir ao banheiro? O número varia de país para país, mas estimativas apontam que, no mundo, menos de 20% das pessoas lava as mãos após a descarga [12]. Com isso, saem do banheiro carregando potenciais patógenos, que podem ser depositados em objetos comuns, superfícies e até mesmo em alimentos.
Por isso, a dica é: melhor não confiar que a pessoa ao seu lado tenha lavado as mãos! Toda vez que estiver em locais públicos, lave as mãos antes de se alimentar e de tocar em olhos, nariz e boca. Essa é uma dica válida para todo o ano e especialmente importante no outono, quando o sistema imune já está trabalhando em ritmo acelerado.
Aproveitando o tema ‘água’, lembre-se de se manter sempre bem hidratado(a). Nos dias mais frios, é comum que bebamos menos água do que no calor. Porém, a água é essencial para o bom funcionamento e a proteção do corpo. Lembre-se que os dias frios costumam ser, também, os mais secos. Algumas das partes do corpo que mais entram em contato com patógenos, como olhos, boca e nariz, precisam estar bem hidratadas para pleno funcionamento e máxima proteção.
Vacinação
A vacina da gripe, anual, é uma das formas mais eficientes de se proteger contra a doença. É importante vacinar-se todos os anos por dois motivos:
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- Primeiro porque a proteção da vacina diminui consideravelmente após 06 meses – portanto, ela protege durante os meses de maior incidência do vírus, mas essa defesa diminui nos meses seguintes.
- Segundo, porque os vírus circulantes mudam de ano a ano. As vacinas são renovadas de acordo, fornecendo proteção contra esses tipos específicos.
Em 2023, a vacina contra a gripe que será oferecida pelo Sistema Único de Saúde é do tipo trivalente, protegendo contra duas cepas (isto é, dois ‘tipos’) do vírus influenza A e uma cepa do influenza B – as mais circulantes no momento. A campanha de vacinação do Ministério da Saúde contra a doença deve ser iniciada em abril.
As novas vacinas da gripe para este ano já chegaram, todavia, em boa parte da rede privada. Elas são tetravalentes, protegendo contra 01 cepa a mais do vírus em comparação à vacina da rede pública. Elas podem ser tomadas por todas as faixas etárias, a partir dos 06 meses.
De acordo com monitoramento anual do Centers for Disease Control and Prevention do governo dos Estados Unidos, a taxa de eficiência das vacinas da gripe – isto é, o quanto a vacina reduz os riscos da doença na população em geral – fica em torno de 40%, podendo checar a 60% em alguns anos [13], um número altíssimo. Essa proteção adicional resulta em considerável redução na circulação do vírus, ajudando a proteger toda a população, mesmo quem não se vacinou.
O outono chegou – e com ele, mudanças na temperatura, na umidade, no ciclo de chuvas e nos vírus e patógenos que circulam no ambiente. Apesar dos próximos meses – e incluímos aqui o inverno – serem tradicionalmente associados a mais casos de doenças, em especial as respiratórias, isso não é algo que precisa assustar ninguém.
Evite ambientes com baixa circulação de ar, deixe a casa bastante arejada (mesmo que por alguns minutinhos nos dias mais frios!), lave constantemente as mãos e vacine-se contra a gripe. Com estas dicas simples, você poderá chegar à próxima primavera sem nenhum espirro, mantendo o corpo fortalecido mesmo nesses tempos mais ‘desafiadores’ para a saúde!
Referências
- https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2023/03/17/em-1-mes-e-meio-media-de-internacoes-pediatricas-por-sindromes-respiratorias-dobra-em-campinas.ghtml
- https://portalsinan.saude.gov.br/
- Lafond KE, et al. Global Role and Burden of Influenza in Pediatric Respiratory Hospitalizations, 1982-2012: A Systematic Analysis. PLoS Med. 2016 Mar 24; 13 (3): e1001977.
- https://globoplay.globo.com/v/11473340/
- https://www.gov.uk/guidance/ventilation-to-reduce-the-spread-of-respiratory-infections-including-covid-19
- Jing Yan, Michael Grantham, Jovan Pantelic, EMIT Consortium et al. Infectious virus in exhaled breath of symptomatic seasonal influenza cases from a college community. PNAS Vol 115 (5) 1081-1086, January 18, 2018. https://www.pnas.org/doi/10.1073/pnas.1716561115
- https://www.nytimes.com/2020/07/14/health/flu-aerosols-coronavirus.html
- https://www.cdc.gov/flu/resource-center/images/multi-language-pdfs/contamination_cleaning_english_508.pdf
- Aiello AE, Coulborn RM, Perez V, Larson EL. Effect of hand hygiene on infectious disease risk in the community setting: a meta-analysis. Am J Public Health. 2008;98(8):1372-81.
- Rabie T and Curtis V. Handwashing and risk of respiratory infections: a quantitative systematic review. Trop Med Int Health. 2006 Mar;11(3):258-67.
- Huang DB, Zhou J. Effect of intensive handwashing in the prevention of diarrhoeal illness among patients with AIDS: a randomized controlled study. J Med Microbiol. 2007;56(5):659-63.
- Freeman MC, Stocks ME, Cumming O, Jeandron A, Higgins JPT, Wolf J et al. Hygiene and health: Systematic review of handwashing practices worldwide and update of health effects. Trop Med Int Heal 2014; 19: 906–916.
- https://www.cdc.gov/flu/vaccines-work/effectiveness-studies.htm