Novembro é o mês dos cuidados com a saúde dos homens. Saiba quais são as doenças mais perigosas entre eles.
Não é segredo: no geral, os homens são mais “relaxados” com a saúde. Apesar desse mau hábito estar mudando nas últimas décadas, com uma conscientização cada vez maior sobre a relevância dos diagnósticos precoces para um futuro mais saudável, ainda é um tanto incomum vermos homens visitar os médicos de forma preventiva.
No geral, desde que se sintam aptos a realizar seu trabalho, os homens costumam deixar a saúde ‘para depois’ e só aparecem no consultório quando alguma dor aguda, persistente e severa, já os deixa bastante debilitados. Não é para menos: se os problemas se acumulam, quando eles ‘estouram’ o estrago é grave!
Além disso, é bem comum os homens tentarem se convencer de que estão saudáveis, quando a realidade é outra. Um estudo recente ilustra bem a questão. Uma pesquisa com mais de 1.000 homens adultos nos Estados Unidos, divulgada agora em setembro, mostrou que 81% deles afirmaram levar uma vida saudável. Só que…
Apesar dessa afirmação, 54% disseram que não estão satisfeitos com o peso, apenas 50% fizeram exames para os tipos de câncer mais comuns (incluindo o de próstata), 44% disseram que não fazem exames médicos anuais, 49% não seguem uma dieta saudável e mais de 80% sentiram-se profundamente estressado nos últimos 06 meses.
Percebe-se claramente: não há muita ‘vida saudável’ nestas estatísticas. Por mais que os pesquisados afirmem, majoritariamente, o contrário…
Por este e outros motivos, os homens possuem expectativa de vida menor que as mulheres e correm riscos maiores de desenvolver um grande número de doenças, muitas delas fatais e que poderiam ser evitadas caso fossem descobertas mais cedo.
Neste mês azul, tão focado na saúde masculina, listamos algumas das principais doenças que afetam os homens – desde o câncer de próstata, já bastante comentado nas campanhas do Novembro Azul, até outras doenças de alto impacto para a saúde masculina, mas comumente negligenciadas. Mais que isso, mostramos também maneiras cientificamente comprovadas de evitá-las. Vamos à lista!
Câncer de próstata
Entre os homens, o câncer de próstata é o 2º tipo mais prevalente, perdendo apenas para o câncer de pele. Para se ter uma ideia, de janeiro a novembro deste ano, mais de 70 mil casos foram diagnosticados aqui no Brasil, segundo o Ministério da Saúde.
Durante o mês de novembro, o câncer de próstata é um dos temas mais comentados na área da saúde, seja na internet, no rádio, na televisão e em publicações gerais. O motivo é simples: quando é diagnosticado cedo, as possibilidades de cura são altíssimas. Porém, o diagnóstico tardio reduz drasticamente as chances de recuperação. Por ser tão comum, é fundamental que a doença seja identificada o quanto antes.
No geral, a incidência da doença aumenta com as décadas vividas. Antes dos 50 anos, a incidência é de menos de 1% da população masculina. Entre os 50 e os 59 anos, a incidência já salta para 2%. Em idosos com mais de 70 anos, a taxa chega a 9%.
Estatisticamente, estão mais propensos a desenvolver câncer de próstata homens com parentes que tiveram a doença e negros. Para essa parcela da população, recomenda-se monitoramento médico da próstata a partir dos 40 anos de idade. Para o resto da população masculina, a partir dos 50 anos é essencial conversar com seu médico sobre o tema.
Hoje em dia, existem diversos testes diagnósticos que ajudam a monitorar o tamanho da próstata de forma pouco invasiva e eficiente. O importante é não deixar esse assunto para depois: as chances de cura de um câncer de próstata nos estágios iniciais são de quase 100%. Ainda assim, hoje em dia, esse tipo de câncer ainda é o 2º mais mortal aqui no Brasil entre homens, perdendo apenas para o câncer de pulmão, e boa parte destas perdas é relacionada ao diagnóstico tardio. Quando o assunto é a próstata, é preciso bastante cuidado desde cedo.
COMO EVITAR?
Dados da literatura médica mostram que alguns hábitos de vida aumentam as possibilidades do aparecimento do câncer de próstata. Dentre eles, estar acima do peso, ser sedentário e alimentar-se com gorduras em excesso.
Portanto, as três principais dicas para evitar o câncer de próstata são:
- Ter uma dieta equilibrada, controlando os níveis de colesterol e o peso;
- Manter-se fisicamente ativo, inclusive na terceira idade;
- Consultar-se periodicamente com o urologista, especialmente a partir dos 50 anos ou a partir dos 40 anos, caso seja negro ou tenha parentes próximos que tiveram a doença.
Doenças cardiovasculares em homens
Liderando a lista de problemas de saúde que mais geram mortes entre os homens estão as doenças cardiovasculares, como aterosclerose e o acidente vascular cerebral (AVC).
Na verdade, é importante notar que essas doenças são as principais causas de morte tanto em homens quanto em mulheres em todo o mundo, porém os números são ainda piores para eles. Dados apontam que a idade média para mortes por doença cardiovascular é de 65 anos entre homens, mas de 71 anos entre mulheres. O principal motivo para isso, de acordo com especialistas, é que os homens costumam ter mais fatores de risco para estas doenças do que as mulheres – por exemplo, é mais comum encontrarmos homens fumantes e/ou que exageram no álcool do que mulheres, e estes são fortes fatores desencadeantes de tais doenças.
Na maior parte das doenças cardiovasculares, placas de colesterol se acumulam nas paredes dos vasos sanguíneos, gradualmente bloqueando o fluxo de sangue e afetando o funcionamento de órgãos essenciais como o coração e o cérebro.
Outro grave fator de risco para as doenças cardiovasculares é o diabetes (falaremos mais sobre ele adiante). E os homens representam a maior porcentagem de pessoas com diabetes não diagnosticado ou tratado, justamente por irem menos ao médico e se precaverem menos com relação à glicemia.
COMO EVITAR?
Algumas estimativas apontam que cerca de metade dos adultos tem ou terá algum tipo de doença cardiovascular. O que fazer para estar do lado certo dessa balança?
A orientação mais geral possível – e de amplo efeito positivo na saúde – é: alimente-se com menos carne e frituras e com mais frutas e verduras, pratique exercícios físicos e não fume. Ou seja, hábitos de vida que todos reconhecem serem bons ao corpo são essenciais para fortalecer o coração e os vasos sanguíneos.
Em termos de alimentação, dietas de alto risco para doenças cardiovasculares são aquelas…
- Ricas em grãos e açúcares refinados
- Ricas em sal
- Ricas em gorduras saturadas
- Ricas em alimentos processados/industrializados
- Pobres em grãos integrais
- Pobres em frutas e vegetais
- Pobres em peixes e sementes.
Estudos apontaram que seguir uma dieta de alta qualidade nutricional (ou seja, o contrário dos itens acima!) pode reduzir em até 30% os riscos de mortalidade por doenças cardiovasculares.
Além de uma boa alimentação, outros fatores protetores contra tais doenças são:
- Os exercícios físicos. Eles não apenas fortalecem o coração como ajudam a evitar problemas causados pela má alimentação. Indica-se um mínimo de 150 minutos semanais de atividades moderadas (aquelas que fazem o coração bater mais rápido).
- Em termos de consultas médicas, indica-se realizar exames de colesterol a partir dos 25 anos, pelo menos a cada 05 anos.
- Mantenha a pressão e o colesterol sob controle – nisso, um médico ou nutricionista poderá ajudar.
- Não fume.
Câncer de pulmão
Falando em fumar…
O câncer de pulmão é uma das formas mais agressivas da doença. Isso porque ele é normalmente metastático e, quando os sintomas se tornam aparentes, a doença já se espalhou para outros órgãos. O tratamento é complicado e com chances ainda não muito altas de recuperação – os índices de sobrevivência após 05 anos do diagnóstico variam de 65% a menos de 10%, a depender do tipo de câncer de pulmão. O índice de reincidência da doença está na casa dos 30%.
Em todo o mundo, mais de 2 milhões de novos casos de câncer de pulmão são registrados todos os anos (cerca de 11% de todos os novos casos), sendo este o tipo mais comum entre os homens. Aqui no Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que, em 2023, devem ser diagnosticados 32.560 casos novos de câncer de traqueia, brônquios e pulmão, 18.020 deles entre os homens (55% dos casos).
Cerca de 90% dos casos de câncer de pulmão podem ser relacionados ao tabagismo. Pesquisas apontam que fumantes têm chances até 30x maiores do que não fumantes de desenvolver esse tipo da doença. Como os homens fumam mais que as mulheres – no Brasil, dados do INCA mostram que 16% dos homens adultos são fumantes, contra apenas 9.6% das mulheres -, é natural que este tipo de câncer afete mais eles do que elas.
COMO PREVENIR?
O essencial é parar de fumar. O quanto antes. Como vimos acima, ao menos 90% dos casos do câncer de pulmão estão relacionados a este hábito.
A boa notícia é que parar de fumar, em qualquer idade e a qualquer tempo, ajuda a reduzir os riscos do aparecimento da doença. Um grande estudo publicado este ano mostrou que, quando comparados com quem nunca fumou, pessoas com câncer de pulmão que continuavam fumando tinham taxas de mortalidade 68% maiores; aqueles que haviam parado de fumar, todavia, tinham as taxas de mortalidade 28% maiores que os não fumantes. Quanto mais tempo se passou entre o parar de fumar e o diagnóstico, melhores as perspectivas dos tratamentos.
Fumar causa mudanças moleculares que promovem o aparecimento de células cancerígenas no corpo, além de aumentar os níveis sistêmicos de diversos marcadores inflamatórios. Quando a pessoa para de fumar, a quantidade desses marcadores reduz-se com o tempo. Além disso, estudos já associaram o fim do hábito de fumar com melhor controle do diabetes e da pressão sanguínea (outros fatores que ajudam a reduzir a expectativa de vida masculina).
Em resumo: nunca é tarde para largar um hábito extremamente nocivo e, com isso, ganhar vários anos a mais de vida saudável.
Diabetes e a saúde dos homens
Assim como o câncer de pulmão, o diabetes é outra dessas doenças perniciosas, que vai evoluindo de mansinho e, quando os sintomas ‘estouram’, já é tarde. Apesar de ser facilmente diagnosticado e, hoje dia, tratado com eficiência, o diabetes é uma doença que costuma afetar negativamente mais os homens do que as mulheres por causa do diagnóstico tardio.
O diabetes é considerado uma epidemia global. Hoje, mais de 500 milhões pessoas no mundo convivem com a doença. Aqui no Brasil, são pelo menos 10% da população adulta. Apesar de, hoje em dia, haver diversos tratamentos e medicamentos de alta qualidade, ainda não há uma cura para o diabetes, e esses tratamentos devem ser seguidos por toda a vida. Ou seja: cuidar do diabetes é algo dispendioso, mas que pode ser evitado.
Felizmente, a adoção de hábitos alimentares e práticas de vida saudáveis comprovadamente auxiliam nos tratamentos, reduzindo a necessidade de remédios e até mesmo ‘revertendo’ o diabetes em casos de pré-diabetes (quando o diagnóstico é feito cedo). O mais importante de tudo é o diagnóstico precoce: aqui, de fato, quanto antes o problema for identificado, mais fácil é evitar a progressão da doença e garantir que seus efeitos negativos não se acumulem e gerem danos irreversíveis no futuro.
Vale lembrar: o diabetes não cuidado pode resultar em doenças cardíacas, doenças renais, doenças vasculares, AVCs, cegueira e até mesmo amputações.
COMO PREVENIR?
O diabetes tipo 2 – forma mais prevalente da doença e que responde a pelo menos 90% dos casos – é intimamente relacionado ao peso. Manter o peso em níveis adequados, em especial ao longo de toda a vida adulta, reduz drasticamente os riscos da doença. Evitar o sedentarismo e o tabagismo também auxiliam na proteção do corpo contra o diabetes.
A Sociedade Brasileira de Diabetes desenvolveu uma calculadora online de riscos para o desenvolvimento do diabetes tipo 2. Trata-se de uma ferramenta interessante e que avalia sexo, peso, fatores de vida e histórico familiar para prever os riscos do aparecimento da doença nos próximos 10 anos, ainda fornecendo dicas para evitar sua evolução. Você pode acessar em:
https://diabetes.org.br/calculadoras/findrisc/
Quais são os exames periódicos que todo homem deve fazer?
Existem alguns cuidados básicos com a saúde que precisam estar na rotina de todo homem adulto. Os principais – e que ajudam a prevenir uma lista grande de doenças tanto no curto quanto no longo prazo – incluem:
- Monitorar a pressão periodicamente
- Realizar hemogramas completos, com análise por um profissional da saúde
- Conhecer e monitorar sua glicemia
- Saber como estão os índices de colesterol, tanto do colesterol ‘bom’ quanto do ‘ruim’
- Realizar testes de urina
- Manter as vacinas em dia
- Manter sob controle o Índice de Massa Corporal e a circunferência abdominal
Neste mês de novembro, a saúde masculina é o foco de inúmeras campanhas de saúde. Talvez a principal mensagem seja conscientizar esse público da importância do acompanhamento médico. É muito comum o homem acreditar que está saudável, quando na verdade seu corpo precisa de ajuda. Visitas anuais ao médico ajudam a dissipar algumas dessas crenças e a ter uma avaliação mais realista sobre como o organismo está funcionando, o que ajuda a mantê-lo firme e forte para muitas décadas de vida plena e saudável. Não deixe de se cuidar. Tempo é valioso.
Para saber mais:
- Pesquisa percepção da saúde masculina (EUA): leia aqui
- Alimentação e doenças cardiovasculares: Anand SS, Hawkes C, de Souza RJ, Mente A, Dehghan M, Nugent R, Zulyniak MA, Weis T, Bernstein AM, Krauss RM, Kromhout D, Jenkins DJA, Malik V, Martinez-Gonzalez MA, Mozaffarian D, Yusuf S, Willett WC, Popkin BM. Food Consumption and its Impact on Cardiovascular Disease: Importance of Solutions Focused on the Globalized Food System: A Report From the Workshop Convened by the World Heart Federation. J Am Coll Cardiol. 2015 Oct 6;66(14):1590-1614. doi: 10.1016/j.jacc.2015.07.050. PMID: 26429085; PMCID: PMC4597475.
- Alimentação e doenças cardiovasculares (2): 2021 Dietary Guidance to Improve Cardiovascular Health: A Scientific Statement From the American Heart Association. Alice H. Lichtenstein, Lawrence J. Appel, Maya Vadiveloo, Frank B. Hu, Penny M. Kris-Etherton, Casey M. Rebholz, Frank M. Sacks, Anne N. Thorndike, Linda Van Horn, Judith Wylie-Rosett et al. Originally published 2 Nov 2021 https://doi.org/10.1161/CIR.0000000000001031Circulation. 2021;144:e472–e487
- Números e dados do câncer de pulmão: leia aqui, e também aqui.
- Riscos de câncer de pulmão após parar de fumar: Wang X, Romero-Gutierrez CW, Kothari J, Shafer A, Li Y, Christiani DC. Prediagnosis Smoking Cessation and Overall Survival Among Patients With Non–Small Cell Lung Cancer. JAMA Netw Open. 2023;6(5):e2311966. doi:10.1001/jamanetworkopen.2023.11966
- Número de fumantes no Brasil: leia aqui.